Dificuldades da Psicanálise

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

A psicanálise originou-se da prática clínica do médico e fisiologista Josef Breuer, devendo-se a Sigmund Freud (1856-1939) a valorização e o aperfeiçoamento da técnica e os conceitos criados nos desdobramentos posteriores do método e da doutrina.

A formulação da psicanálise baseou-se em conhecimentos existentes, como a estrutura tripartite da mente e a teoria do inconsciente; tem em seus fundamentos muito do pensamento filosófico de Platão e do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser explicada em parte pela sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo – objeto natural de interesse das pessoas e sua principal fonte de felicidade – como único e poderoso móvel do comportamento humano. O pensamento de Freud está principalmente em três obras: Interpretação dos Sonhos, a mais conhecida, publicada em 1900; Psicopatologia da Vida Cotidiana, publicada em 1901 e na qual apresenta os primeiros postulados da teoria psicanalítica; e Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de 1905, que contém a exposição básica da sua teoria. Em Totem e Tabu (1913/14) e O Futuro de uma Ilusão (1927), expõe sua posição sobre a religião.

Essa força, o instinto sexual, não se apresentava consciente, devido à “repressão” tornada também inconsciente.

As partes da alma de Platão correspondem ao Id, ao Superego e ao Ego da sua teoria, que atribui funções físicas para as partes ou os órgãos da mente (O Ego e o Id, 1923).

O Id, regido pelo “princípio do prazer”, tinha a função de descarregar as tensões biológicas. Corresponde à alma concupiscente do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida.

O Superego, que é gradualmente formado no Ego e se comporta como um vigilante moral, contém os valores morais e atua como juiz moral. É a parte irascível da alma, a que correspondem os “vigilantes” na teoria platônica.

Também inconsciente, o Superego faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se a consciência indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação, pela produção da imagem do “eu ideal”, isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o início da puberdade ou adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social (O Ego e o Id, 1923).

O Ego, ou o eu, é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos desejos do Id e à repressão do Superego. Lida com a estimulação que vem tanto da própria mente, como do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo “princípio de realidade”, ou seja, a necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem transgredir as exigências do Superego. É a alma racional no esquema platônico. É a parte perceptiva e a inteligência, que deve, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego por meio de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres ou que, ao contrário, imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e ao gozo da vida.

O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se o Ego submete-se ao Id, torna-se imoral e destrutivo, se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável, e, se não se submeter à realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial, tema que seduziu a Sartre. Estamos divididos entre o princípio do prazer, que não conhece limites, e o princípio de realidade, que nos impõe limites externos e internos. Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poder do Superego. No indivíduo normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos neuróticos e psicóticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.

Não temos consciência dessas aptidões, mas conhecemos suas manifestações, que nos permitem avaliá-las. Obviamente, não será “maduro” aquele indivíduo cujo comportamento é dominado por apenas uma ou por algumas dessas aptidões, por ausência ou deficiência das demais.

Para muitos a doutrina de Platão é um dos mais belos pensamentos da Filosofia. Freud utilizou parte dela como fundamento da Psicanálise (como dissemos acima), focalizando apenas uma determinada neurose, enquanto em Platão, o desiquilíbrio das partes da mente que podemos com segurança entender como imaturidade, inclui toda condição do indivíduo.

Veja, por favor, as páginas vinculadas: “Caminho da Maturidade Social“, “Maturidade e Imaturidade na Prática“, “Identificando o Comportamento Imaturo“, “Educação Não Basta“, “O Mito do QI” e “Os Generais de Hitler“. 

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 07-02-2022.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Dificuldades da Psicanálise. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2022.