Søren Aabye Kierkegaard

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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Obras. Em suas obras, Kierkegaard lançou os fundamentos do existencialismo, a corrente que depois receberia a contribuição de Heidegger e Sartre, e fez vasto uso de pseudônimos para uma finalidade muito especial: eles representam, não ele próprio, mas personagens com pontos de vista e atitudes próprias. Estabelece uma dialética entre esses personagens, ou seja, entre dois ou mais pseudônimos seus. Deste modo, um livro assinado com um pseudônimo responde a outro livro, assinado com outro pseudônimo. O Pseudônimo Johannes Climacus trata do dilema entre a dúvida e a fé. Vigilius Haufniensis ocupa-se dos aspectos psicológicos do pecado e da ansiedade. Johannes de Silentio e Constantin Constantius ocupam-se da ética, a partir dos aspectos envolvidos no relacionamento de Kierkegaard com Regine Olsen. Anti-Climacus é o cristão ideal, etc. O seu propósito não era o anonimato mas desvincular sua personalidade dos assuntos polêmicos de que tratava.

Os escritos de Kierkegaard, consignados ao período de sua juventude (1834-1842) e depois impressos, incluem um artigo sobre a emancipação da mulher, outro sobre a liberdade de impressa escrito para a Liga dos Estudantes, e principalmente sua primeira obra publicada: “Dos papeis de alguém ainda vivo”.

Na relação a seguir, a tradução dos títulos para o português foi feita a partir das versões em inglês. São ainda obras desse período:

  • Om Begrebet Ironi med stadigt Hensyn til Socrates (“O Conceito de ironia, com referência continua até Sócrates”), 1841. Foi sua tese e o assunto é, na primeira parte, a ironia de Sócrates – como aparece em Platão -, de Xenofonte e de Aristofanes, com uma parte sobre Hegel; e na segunda parte, a ironia em Fichte, von Schlegel, e outros.
  • “Notas das aulas de Schelling em Berlim” (1841-42) que são anotações de diário sobre seus estudos na Alemanha, publicadas postumamente.
  • Confissão pública”, 1842, que apareceu com seu próprio nome desautorizando boatos de que era o autor de artigos assinados com pseudônimos. Ele era de fato o autor, mas era essencial para a dialética autoral que queria criar, que se desvinculasse da autoria desses artigos.
  • Enten-Eller. Et Livs-Fragment: Første Deel, indeholdende A.’s Papirer (“Ou…/ou: Um fragmento de vida: Primeira Parte, contendo os papeis de A”) e
  • Enten-Eller. Et Livs-Fragment: Anden Deel, indeholdende B.’s Papirer, Breve til B, (“Ou…/ou: Um fragmento de vida: Segunda Parte, contendo os papeis de B, Cartas para B”), são de 1843. As duas partes da obra referem-se aos dois tipos de vida que Kierkegaard concebe: estética e ética. A primeira parte é uma coleção de trabalhos apresentando vários pontos de vista estéticos. A parte segunda é sobre o casamento como uma expressão do estágio ético. Victor Eremita” é o editor das duas partes as quais, têm, cada uma, seu próprio autor. “A”, o Jovem, é o autor da primeira parte, e “B”, ou “Juís William”, o autor da segunda parte. Kierkegaard tomou cuidados especiais para que o público não soubesse que era ele o autor, ao ponto de fazer os originais serem copiados por mãos diferentes, de modo que os empregados da gráfica não o identificassem pela caligrafia. Esmerando-se em extremo nessa farsa, publicou, uma semana após o lançamento do livro, um artigo seu no “A Pátria”,com o pseudônimo “A. F.” onde ele próprio indaga “Quem é o autor de Ou…/Ou…?” São também de 1843:
  • “Uma palavra de Agradecimento ao Professor Heiberg”, por Victor Eremita. Aquele era uma grande figura da literatura na Dinamarca;
  • “Pequena Explicação”, um pequeno artigo escrito também em referencia a pseudônimos por ele adotados, tal como “Quem é o autor de Ou…/Ou…?” e “Confissão Pública”.
  • Johannes Climacus, eller De omnibus dubitandum est. En Fortælling (“Johannes Climacus, ou de omnibus dubitandum est. Uma narrativa”), também de 1843, de publicação póstuma, é um trabalho filosófico em que “Johanes Climacus”, na sua busca da verdade filosófica, duvida de tudo, explorando o modelo cartesiano e hegeliano. Johannes Climacus” será também o autor de (“Fragmentos filosóficos”) e a outra obra vinculada, (“Post-scriptum não científico conclusivo”). Este pseudônimo representa a autoria dos maiores trabalhos filosóficos de Kierkegaard.
  • Em 1843 também inicia a série Atten Opbyggelige Taler (“Dezoito Discursos edificantes”) que irá de 1843-45. Está dividido em três seções. A primeira contem o popular “Pureza do Coração é querer uma coisa”; a segunda é “O que aprendemos dos lírios do campo e das aves do céu”; a terceira é “O evangelho dos sofrimentos”. Foi publicado por partes: Duas em 1843; três, em 1843; quatro, em 1843; duas, em 1844; Três, em 1844; Quatro, em 1844)
  • Frygt og Bæven: Dialectisk Lyrik (“Temor e Tremor: um lírico dialético”), também de 1843. O pseudônimo é Johannes de Silentio”. Nesta obra Kierkegaard trata do seu rompimento com Regine na mesma perspectiva em que vê o sacrifício de Abraão e Isaac: obediência a um dever, mas que exige um ato não ético. Nesta perspectiva Kierkegaard aborda uma interessante questão: um julgamento moral pode ser suspenso em virtude de um poder maior. Ele exemplifica com o episódio em que Abraão recebe de Deus a ordem de matar Isaac. (“Temor e Tremor”) (1843). O problema que ele coloca é se existem situações nas quais a ética pode ser suspensa por uma autoridade maior, Deus, que é a essência de tudo que é ético.
  • Gjentagelsen: Et Forsøg i den experimenterende Psychologi (“Repetição, uma especulação em psicologia experimental”). De 1843, é uma narrativa filosófica com considerações a respeito da impossibilidade do compromisso entre dois amantes, situação como a criada por ele próprio com sua noiva Regine Olsen. O pseudônimo é Constantin Constantius”, um poeta que escreve sobre o estágio ético, como um jovem amante que só pode amar sua amada depois deixá-la e somente “poeticamente”.
  • Philosophiske Smuler eller Smule Philosophi (“Fragmentos filosóficos, ou um fragmento de filosofia”), Johannes Climacus, é de 1844. Kierkegaard nesta obra inicia a abordagem de um tema que irá concluir em “O conceito de ansiedade”. É uma tentativa de apresentar o cristianismo como deveria ser para que tenha algum sentido. Busca particularmente apresentar o cristianismo como uma forma de existência que pressupõe a vontade livre, sem a quaql tudo fica sem sentido.
  • Begrebet angest. En simpel psychologisk-paapegende Overveielse i Retning af det dogmatiske Problem om Arvesynden (“Conceito de Angustia: uma simples deliberação psicologicamente orientadora a respeito do problema dogmático do pecado original”), de 1844, no qual Kierkegaard examina a doutrina cristã do pecado original e sua relação com a angústia e ansiedade. A liberdade causa ansiedade. Vigilius Haufniensis é o autor; Haufniensis significa “vigilante”, no caso, da cidade de Copenhague, como se Kierkegaard se sentisse responsável pela guarda da sua cidade aparentemente sob todos os aspectos de seu bem estar.
  • Forord. Morskabslæsning for enkelte Stænder efter Tid og Leilighed (“Prefácios: leitura leve para pessoas em vários estados de acordo com o tempo e a oportunidade”), Nicolaus Notabene, foi também publicado em 1844. Uma série de ensaios e críticas satíricas visando o sociedade literária de Copenhague, principalmente a figura de J. L. Heiberg. São oito prefácios referentes a oito trabalhos não existentes. Nicolaus Notabene”, um personagem pedante, é o autor.
  • Tre Taler ved tænkte Leiligheder (“Três Discursos sobre ocasiões imaginárias”), de 1845. Este trabalho acompanhou o Stadier paa livets vei (“Estágios no caminho da vida”). Cada um dos três discursos representa os três estágios ou condições de existência: a estética, a ética e a religiosa: “Um confissão”, “Um casamento”, e “Ao lado de uma sepultura”.
  • Stadier paa Livets Vei. Studier af Forskjellige. Sammenbragte, befordrede til Trykken og udgivet af Hilarius Bogbinder (“Estágios no caminho da vida: estudos por várias pessoas, compilado, encaminhado à imprensa, e publicado por Hilarious Bookbinder”) É um complemento a (“Ou…/Ou…”) de 1845, e discute a mesma questão do estético e do ético, acrescentando porém o estágio religioso da existência. O editor é “Hilarius Bookbinder” A primeira parte, chamada “In Vino Veritas” ou “O banquete,” é assinada por “William Afham” – Afham significa “por si mesmo” e está calcada no Symposium de Platão: trata dos mesmos assuntos — amor, Eros, sexo, mulheres — com um amargo sarcasmo e profundo desdém pelas mulheres em geral. “Frater Taciturnus” assina o texto do estágio religioso.
  • “Uma explicação e um pouco mais”, de 1845, pequeno artigo que, como “Uma pequena Explicação” e “Quem é o autor de Ou…/Ou…” é outra tentativa de Kierkegaard de guardar distância da autoria de seus trabalhos.
  • En flygtig Bemærkning betræffende en Enkelthed i Don Juan (“Uma observação superficial sobre um detalhe em Don Giovanni”). É um artigo publicado no jornal A pátria em 1845 no qual volta ao assunto relativo à ópera Dom Giovanni de Mozart, tratado inicialmente no (“Ou…/Ou…”).,. O autor é A”, que foi o autor de um artigo muito anterior (“Uma outra defesa das grandes habilidades da mulher”).
  • Afsluttende Uvidenskabelig Efterskrift til de philosophiske Smuler. Mimisk-pathetisk-dialektisk Sammenskrift, Existentielt Indlæg (“Post-scriptum não científico conclusivo ao Fragmentos Filosóficos. Uma compilação Mímico-patético-dialética, uma contribuição existencial”), de 1846, faz a abordagem subjetiva do conhecimento. Kierkegaar novamente sustenta a necessidade de se aproximar da verdade subjetivamente, porém sem negar a verdade objetiva, apenas dizendo que a verdade objetiva somente pode ser conhecida e apossada subjetivamente. Como o título anuncia, é uma continuação ao “Fragmentos Filosóficos”. Saiu assinado por Johannes Climacus.
  • “A atividade de um esteticista viajante e como aconteceu de ele ainda pagar pelo jantar” é um artigo publicado npor Kierkegaard no Fædrelandet (“A Pátria”), em 1845; foi o primeiro de dois artigos atacando P. L. Møller e “O Corsário”, que havia inescrupulosamente e negativamente criticado o “Estágios do caminho da vida” de Kierkegaard. Em fins de dezembro de 1845, no seu anuário de estética Gæa, 1846. Kierkegaard retaliou revelando que Møller escrevia secretamente para o Corsaren (“O Pirata”). Este era um semanário humorístico mal afamado, que satirizava pessoas de respeito, e era considerado desprezível, porém lido reservadamente por muita gente. Seu editor era Meïr Goldschmidt (1819-1887), bem mais novo que Kierkegaard, e que este considerava talentoso. A intenção de Kierkegaard com o seu artigo foi dupla: desacreditar Møller e afastar Goldschmidt do “O Pirata”, porque acreditava que Goldschmidt era capaz de coisas de mais valor. O resultado foi péssimo para Kierkegaard, pois “O Pirata” se lançou em uma campanha para metê-lo no ridículo, caricaturando-o de vários modos, no que foi a maior comoção literária do século XIX na Dinamarca.
  • Det dialektiske resultat af en literair Politi-Forretning (“Resultado dialético de uma ação policial literária”), Frater Taciturnus, de 1846, é o segundo de dois artigos que escreveu atacando O Pirata como jornal como corrupto e difusor de boatos.
  • En literair Anmeldelse: To Tidsaldre, Novelle af forfatteren til En Hverdags-Historie udgiven af J. L. Heiberg, (“Duas épocas: a época da revolução e a época presente, uma revisão literária: “) de 1846 uma longa crítica do romance de Thomasine Christine Gyllembourg-Ehrensvärd, intitulado “Duas Épocas”. A crítica deu margem a uma polêmica, devido a Kierkegaard achar que sua época era de reflexão, faltava paixão.
  • Opbyggelige Taler i forskjellig (“Discursos edificantes em vários temas”), de 1847
  • Kjerlighedens Gjerninger. Nogle christelige Overveielser i Talers Form (“Escritos de Amor: Algumas deliberações cristãs sob a forma de Discursos”), de 1847. Longa abordagem do preceito cristão “amar o próximo como a si mesmo”. Está claro que Kierkegaard estava se movendo na direção de uma ainda maior austeridade no se pensamento religioso, e nos trabalhos que ele agora produzia, particularmente Kjerlighedens gjerninger, retratava um cristianismo rígido e mais descompromissado que em qualquer de suas outras obras.
  • Hr. Phister som Captain Scipio (i Syngestykket Ludovic): En erindring og for Erindringen (“O Sr. Phister como Capitão Scipio (na ópera cômica Ludovico): uma recordação e para recordar”), de 1848, comentário sobre a atuação do ator Joachim Ludvig Phister’s (1807-1896) como Capitão Scipio, que demonstra o interesse de Kierkegaard pelo teatro. Procul” é o autor.
  • Krisen og en Krise i en Skuespillerindes Liv (“A crise e uma crise na vida de uma atriz”) de 1848, são especificamente a respeito da competência interpretativa da atriz Johanne Luise Pätges Heiberg (1812-1890), mulher de Johan Ludvig Heiberg, uma figura exponencial da literatura e da sociedade dinamarquesa. O pseudônimo utilizado por Kierkegaard é Inter et Inter”.
  • Christelige Taler (“Discursos cristãos”), de 1848, neste Kierkegaard entende que seus pecados foram perdoados e esquecidos por Deus.
  • Bogen om Adler, eller en Cyclus ethisk-religieuse (“O livro sobre Adler, ou um ciclo de ensaios ético-religiosos”) por Afhandlinger, de 1846-47, revisado em 1848, foi publicado postumamente. Um pastor hegeliano radical, Adolf Adler afirmava ter tido uma visão em que Cristo ditara integralmente para ele um trabalho inteiro, porém confessa depois que sua revelação fora um erro, que ele pretendia que a obra fosse um trabalho de gênio. Kierkegaard explora as categorias de genialidade e inspiração.
  • Tvende ethisk-religieuse Smaa (“Dois pequenos Ensaios Ético Religiosos”) incluindo (“Tem o homem o direito de se deixar matar pela verdade?”) e (“Diferença entre um gênio e um apóstolo”). Este trabalho, escrito 1847, foi publicado em 1849. Kierkegaard não publicou “O Livro sobre Adller” mas utilizou parte dele para tratar de martírio e as categorias de genio e inspiração nos dois artigos desse folheto, assinados com o pseudônimo Afhandlinger H. H..
  • Den Enkelte”; Tvende “Noter” betræffende min Forfatter (“O indivídual singular “:Duas “Notas” relativas ao meu trabalho como um autor”), Virksomhed, 1846-47, com post-scriptum de 1849 e 1855, publicado postumamente em 1859. Foi o primeiro de três trabalhos que Kierkegaard escreveu em 1848, a respeito de sua atividade autoral mas foi publicado postumamente em 1859
  • Synspunktet for min Forfatter-Virksomhed. En ligefrem Meddelelse, Rapport til Historien (“O ponto de vista para meu trabalho como um autor. Uma comunicação direta, notícia para a História”), foi outro desses três trabalhos de 1848, a respeito de sua atividade autoral, também publicado postumamente em 1859. Kierkegaard escreveu esse trabalho para explicar todo o seu método autoral, mas o deixou sem publicar porque lhe pareceu muito auto elogioso.
  • Om min Forfatter-Virksomhed 1848-49 (“Sobre meu trabalho como um autor 1848-1849”), suplemento, 1850, publicado em 1851.
  • Den væbnede Neutralitet eller Min Position som christelig Forfatter i Christenheden (“Neutralidade armada, ou minha posição como um autor cristão na cristandade”), 1848-49, publicado postumamente em 1880. Este pequeno trabalho é importante porque poderá ser a mais direta e clara afirmação da posição de Kierkegaard sobre a Igreja e a cristandade. Tem estilo diferente do utilizado nos panfletos contra a cristandade que apareceram ao final de sua vida.
  • Lilien paa Marken og Fuglen under Himlen: Tre gudelige Taler (“Os lírios do campo e as aves no céu: três discursos devocionais”), 1849, são artigos que apareceram quase um ano depois de sua experiência religiosa de 1848 e tem o tom semelhante ao do “Discursos Cristãos”.
  • Sygdommen til døden. En christelig psychologisk Udvikling til Opbyggelse og Opvækkelse (“A doença para a morte: uma exposição psicológica cristã para edificar e alertar”), de 1849, livro que é peça associada ao “Conceito de Ansiedade” e também é um trabalho de psicologia, que vai mais longe que suas primeiras considerações psicológicas sobre a ansiedade. Neste Kierkegaard considera os aspectos espirituais da angústia. Considera a ansiedade relacionada ao que é ético, e a angústia ao que é religioso, ou seja, ao eterno. “Anti-Climacus” é o autor; com este pseudônimo Kirkegaard assinou seus mais importantes trabalhos na linha religiosa, personificando o cristão perfeito. “Anti-Climacus” é do mais alto nível enquanto “Climacus”, ao contrário, personifica um cristão de menor valor.
  • Tre Taler ved Altergangen om Fredagen (“Três Discursos sobre a comunhão às sextas-feiras”), 1849. Este trabalho contem: “O sumo sacerdote” “O publicano ” e “A mulher apanhada em pecado”, este último baseado em Lucas. São semelhantes aos “Discursos Cristãos”. Estes trabalhos são acompanhados por uma breve explicação sobre o recurso a pseudônimos adotado anteriormente por Kierkegaard.
  • Indøvelse i Christendom (“Prática cristã”), Anti-Climacus, de 1850. Ele pretende mostrar meios pelos quais o verdadeiro cristianismo pode ser reintroduzido na Cristandade, pois esta afastou-se do cristianismo do Novo Testamento. O trabalho é polêmico e homiliético. Foi também um ataque dissimulado aos chefes da igreja dinamarquesa.
  • En Opbyggelig Tale (“Um discurso edificante”), 1850
  • Foranlediget ved en Yttring af Dr. Rudelbach mig betræffende (“Carta aberta, provocada por uma referencia a mim feita pelo Dr. Rudelbach”)1851, refere-se a uma proposta de reforma da Igreja feita por A. G. Rudelbach contra a qual Kierkegaard, apesar de desejar essa reforma, objeta que Rudelbach sugeria instrumentos políticos para a reforma, quando o necessário era uma demolição com reconstrução espiritual.
  • To Taler ved Altergangen om Fredagen (“Dois discursos sobre a comunhão às sextas-feiras, escrito em 1849, publicado em 1851.
  • Til Selvprøvelse. Samtiden Anbefalet (“Para o exame de consciência: recomendado para a época presente”) 1851, busca reorientar o leitor para Deus. É densa espiritualidade em todas as suas três partes: “O que é necessário para se olhar a si mesmo com verdadeira benção no espelho do mundo?”, “Cristo é o caminho” e “É o espírito que dá a vida”.
  • Dømmer Selv! Til Selvprøvelse, Samtiden Anbefalet. Anden Række (“Julgue por si mesmo! Para o exame de consciência, recomendado para a época presente. Segunda série”)1851, publicado postumamente em 1876. Está estreitamente vinculado ao “Para o exame de consciência”, acima, e é sobre o sofrimento e imitação de Cristo.
  • Vários artigos no “A Pátria” (um total de 21), publicados em 1854 e 1855, nos quais dirige pesados ataques à igreja oficial por ter erradicado o verdadeiro cristianismo, e por tê-lo substituído por uma religião do Estado.
  • Dette skal siges; saa være det da sagt (“Isto precisa ser dito, logo, deixa que seja dito”) Esse folheto de 1855 foi publicado depois da série de artigos saídos no “A Pátria”. Nele Kierkegaard alega que a igreja é tão corrupta que é melhor não frequentá-la.
  • Øieblikket (“O momento”) editado no ano de 1855. Depois dos artigos publicados no “A Pátria” Kierkegaard publicou dez folhetos, cada um contendo vários artigos seus, todos continuando seu ataque à Igreja Oficial.
  • Hvad Christus Dømmer om officiel Christendom , (“O que Cristo pensa do Cristianismo oficial”), de 1855. Essse folheto foi publicado logo depois que Kierkegaard começou a publicar o Øieblikket (“O Momento”). Kierkegaard ataca outra vez a igreja oficial chamando os clérigos de livre pensadores e perjuros por não cumprirem seus votos sagrados.
  • Guds Uforanderlighed. En Tale (“A imutabilidade de Deus: Um discurso”) Publicado em 1855, em meio a seu ataque à Igreja.

Além dessas obras, Kierkegaard deixou cartas e documentos, alguns reunidos depois em obras póstumas, e na publicação em vários volumes Søren Kierkegaards Papirer (Papeis de Kierkegaard), primeira parte, os datados de 1834-47, e segunda parte, de 1848-55, restando milhares de notas de interesse religioso, pessoal ou histórico, a serem ainda aproveitadas.

Ultimos anos. Após a querela com os hegelianos, Kierkegaard torna-se um reformador religioso. Por volta de 1854 Kierkegaard estava convencido de que Deus o autorizava a atacar asperamente a igreja dinamarquesa e seu clero, o que ele começou logo a fazer com uma série de pequenos livros e panfletos e até com um periódico chamado “O Momento”, de cujos números ele foi o único colaborador. Em 21 artigos no “A Pátria”, em 1854 e 1855 ele faz um duro ataque à igreja oficial, como já referido, por ter erradicado o verdadeiro cristianismo, e por tê-lo substituído por uma religião do Estado. Intolerante com a hipocrisia, critica os que fingiam espiritualidade enquanto agiam segundo interesses mundanos. Considerava tais pessoas um produto da cultura cristã: o indivíduo cauteloso, respeitável, imperturbável, um cavalheiro da classe média. E sentiu-se chamado por Deus para a tarefa especial de mostrar aos seus concidadãos a verdadeira natureza do Cristianismo.

A igreja da Dinamarca era estatal e a religião luterana a religião oficial do Estado. Bastava nascer no país para ser automaticamente cristão. Kierkegard alegava que isto reduzia a nada a possibilidade de uma verdadeira conversão radical a Cristo. O cristianismo deve ter por fundamento a vontade livre, sem a qual tudo perde o sentido.

O pastor local, um verdadeiro funcionário público, representava a Coroa e por isso, além da prática de suas funções especificamente religiosas, também era quem coleta impostos, realizava os recenseamentos, fazia o recrutamento militar, mantinha os registros civis nos livros da igreja, supervisionava as escolas, e cuidava da assistência aos pobres, e era o presidente do Conselho Municipal, além de cuidar de seus próprios interesses, muitas vezes a maior fazenda das vizinhanças. As questões políticas e os rancores misturavam-se facilmente com os assuntos religiosos, gerando escândalos.

Atacou o Bispo Jacob Pier Myster, um prelado culto e secularizado, por juntar o hedonismo de Goete com os sofrimentos de Cristo. Não chegou a criticá-lo abertamente, pois o bispo era seu amigo e havia sido o orientador espiritual de seu pai. Porém, com a morte de Myster em 1854, atacou publicamente o bispo que o sucedeu, Hans Lassen Martensen (1808-84), um hegeliano, pregador na corte, o qual Kierkegaard não respeitava.

Morte.As tensões daqueles dois anos da sua campanha afetaram sua saúde. Em outubro de 1855 Kierkegaard caiu inconsciente na rua, e ficou com paralisia das pernas. Levado ao Hospital, era visitado ali diariamente pelo amigo Pastor Boesen, tendo proibido a entrada de seu irmão Peter, do qual divergia pelas razões mesmas da sua campanha. Não quis receber a comunhão, para não recebê-la das mãos de um pastor da Igreja Luterana que ele disse devia ser abandonada, uma vez que Deus estava sendo desrespeitado em suas igrejas. Após internado 40 dias, veio a falecer

Seu enterro foi acompanhado por uma multidão engrossada por estudantes que fizeram a guarda de seu corpo. O Pastor Peter, seu irmão, fez a oração fúnebre na “Frue Kirke”, a mais importante igreja de Copenhague, e que logo cedo ficou lotada. Muitos protestaram por ter o corpo sido trazido à Igreja, por acharem que a igreja nacional não devia se imiscuir, em respeito à oposição que lhe havia feito o filósofo.

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 08-06-2001.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Kierkegaard. Filosofia Contemporânea. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2001.