Religião: Boas Maneiras e Etiqueta I

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

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Esta página não é simpática a qualquer religião em particular. Aborda o bom relacionamento social entre os fieis sob dois aspectos: – Boas Maneiras de um modo geral, em relação a presença no templo, e – na segunda parte, Boas Maneiras quanto ao relacionamento entre pessoas de credos diferentes.

GENERALIDADES

Existe um certo número de normas de Boas Maneiras que as pessoas naturalmente observam quando entram em um lugar sagrado. São limitações naturais, inerentes ao seu sentimento de respeito. Não fumar, comer ou beber no interior do templo é um cuidado praticamente geral. Não correr, mas caminhar com postura correta e silenciosamente, vestir-se conforme os costumes, apresentar-se limpo, manter respeitoso silêncio no Templo, não ser desagradável ao outro no convívio da comunidade, e ensinar este comportamento aos filhos são atitudes indispensáveis para que o Templo seja verdadeiramente um lugar de recolhimento e meditação.

O culto, além de sua função religiosa, representa também uma oportunidade de socialização. Porém, são pouquíssimos os templos em cuja construção esse aspecto foi levado em conta, incluindo-se no seu projeto um hall amplo, onde ao final do culto os fieis pudessem ter um instante de conversa.

PREPARATIVOS PARA ASSISTIR AO CULTO.

Asseio em geral, limpeza do calçado, usar vestimenta condizente com o recolhimento espiritual, são cuidados que o respeito à própria fé aponta como indispensáveis ao preparo para o culto religioso, tanto para o homem como para a mulher.

Asseio. Mãos e unhas limpas, para tocar nos livros de orações, dar as mãos aos companheiros do mesmo banco onde é costume os fieis se darem as mãos para rezarem juntos, e para o aperto de mão da saudação no momento previsto no ritual. Quem sua muito pode enfiar a mão direita no bolso ou na bolsa onde terá um lenço de papel para enxugá-la sem chamar atenção para esse gesto.

Vestimenta. A roupa domingueira – que o indivíduo reserva para ir ao templo –, já não é mais a sua melhor roupa. Sua veste mais formal está destinada a outros ambientes, e causaria estranheza se ele a envergasse para assistir a um culto. Salvo para uma cerimônia muito especial, as mulheres não vão ao templo em seus longos e com suas mais finas joias, nem os homens vão metidos em smokings. O templo não é o local para atrair a atenção para os últimos lançamentos da moda. O que se espera de quem assiste a missa ou culto é que se vista com simplicidade e decência e demonstre cuidado com sua aparência, apresentando-se bem penteado e com uma roupa de boa qualidade. Ofícios fúnebres, em qualquer religião, em geral pedem roupas escuras e formais.

Vestimenta masculina. O homem não deve mostrar descaso, usando camisa desabotoada, camiseta sem mangas, camiseta com dizeres à frente ou nas costas, bermudas ou roupa e acessórios próprios para esporte como short e tênis vistosos. Gravata e o paletó são indispensáveis para cerimônias formais como casamentos, e para cultos e missas em que estejam presentes autoridades convidadas. Na Igreja Católica, o costume é que os homens tenham a cabeça descoberta. Nunca usam chapéu ou boné, salvo chapéu próprio de um rito, previsto na sua liturgia.

Vestimenta feminina. As mulheres, apesar da liberação atual dos costumes, devem fazer condizer o estilo das roupas que vão usar com o recolhimento necessário à oração. Devem estar vestidas com decência, com vestidos adequados que não sejam muito decotados e sem mangas, nem muito curtos, com ombros desnudos, costas à mostra, shorts, minissaias. O véu é um acessório bonito e seu uso uma mostra de respeito nas religiões que têm como preceito o seu uso. Um chapéu discreto pode substituí-lo em cultos dominicais e cerimônias como casamento e batismo. Nunca é permitida a indumentária de banho, seja para homem ou mulher, mesmo sendo uma capela próxima de uma praia.

Estacionamento. Antes mesmo de entrar no templo, o fiel já tem com que se preocupar a respeito de Boas Maneiras. Não deve estacionar no semicírculo reservado a veículos que levam ou buscam passageiros até à porta de entrada do templo. A circulação frente à porta principal é importante no transporte de idosos e deficientes físicos, principalmente em dias de chuva. Essa via deve ter suas duas pistas inteiramente livres. O motorista, depois de deixar seus passageiros a porta do Templo, procura uma vaga no estacionamento comum Quando estacionar seu carro, terá o cuidado de deixar o veículo bem alinhado e no centro da vaga.

Se for necessário reforçar essa norma – em nosso Pais a quase totalidade dos fieis a desconhecem –, o administrador do Templo deve utilizar cones de borracha ao longo de toda a circular, para que todos compreendam que ali não se estaciona.

Sapatos sujos. Quando as pessoas precisam andar em terra poeirenta ou pisar lama para alcançar a porta do Templo, torna-se imprescindível que limpem seus sapatos para entrar. Cabe ao administrador do templo colocar, junto às entradas, cascalho lavado e raspadores de lama para as solas dos calçados e, no interior, capachos suficientemente grandes seguidos de toalhas-tapetes umedecidas com água, onde quem chega poderá esfregar o solado dos sapatos.

NO INTERIOR DO TEMPLO.

Atitudes dos fieis que podem perturbar o culto, são, principalmente, uma entrada barulhenta, conversas e risos perceptíveis apesar de dissimulados, descuido com o telefone celular, e outros comportamentos que revelam falta de boas maneiras e são perturbadores do evento litúrgico.

Entrada dos fiéis. Nos templos de maiores dimensões sempre existem entradas laterais, porém os fieis devem evitá-las e entrar e sair de preferência pela entrada principal onde são recebidos pelo celebrante, e de onde partirá o cortejo de entrada. E também é na porta principal que termina o cortejo de saída ao final da cerimônia, oportunidade que tem o celebrante de conversar ligeiramente com cada membro da comunidade. Nessas ocasiões, não se deve prolongar o diálogo, para que todos que desejarem tenham vez de cumprimentá-lo.

Entrar com atraso. Em qualquer cerimônia que se chega atrasado, deve-se aguardar discretamente, à entrada do recinto, o momento certo para entrar: A entrada com atraso, ou a saída antes de terminado o serviço, serão notadas pelos presentes, em certos momentos mais que em outros, perturbando sua atenção.

No caso dos católicos e dos ortodoxos, não se deve entrar logo à frente, ou durante o percurso, ou seguindo logo atrás do cortejo em que o sacerdote e seus auxiliares se dirigem ao altar pelo corredor central da nave. Outros momentos inadequados são o da leitura das epístolas e do evangelho. É duplamente prejudicial a entrada de retardatários durante a prédica, porque chama a atenção não somente da assistência, mas também do pregador. Nestes casos, deve-se permanecer ao fundo até que a etapa termine, para então procurar um lugar, o mais discretamente possível. O desejável, portanto, é que as pessoas cheguem um pouco antes da hora marcada e somente deixem seus lugares depois da passagem do cortejo, ao final do culto. O muçulmano que chega atrasado à mesquita espera a ocasião em que os fieis estão de pé ou assentados nos tapetes para entrar. Não entra  saltando sobre os seus pescoços, quando estão prostrados com o rosto em terra, em oração.

Tomar assento. Ter um local preferido no Templo, em que toma assento em todas as cerimônias, é um hábito de muitos fiéis. Ao escolher esse ponto, além dos motivos que tem para sua preferência, precisa considerar também aspectos que interessarão aos outros. Pessoas mais altas devem procurar lugar nas pontas junto às naves laterais do templo, ou escolher um lugar mais ao fundo, a fim de não impedir a muitas outras a visão do altar. Porém, quem ocupa a ponta de um banco vazio deve ficar atenta aos que se aproximam dando-lhes passagem do modo o mais gentil possível, para que ocupem as posições do meio.

Beijo de reverencia. Ao beijar a cruz, uma imagem, o anel do bispo ou a mão do sacerdote, do rabino ou do imã, não é necessário tocar com os lábios; aproximá-los já caracteriza o gesto de beijar. O beijo é um gesto simbólico de respeito, e como tal basta que seja imitado, o que dispensa o contacto.

Confessionário. Não se deve ficar próximo ao confessionário, um local nos templos católicos – geralmente com a estrutura de uma pequena capela de madeira – onde os católicos têm uma conversa pessoal com um sacerdote. E uma atitude indiscreta da parte de quem se aproxima.

Comunhão. A saída dos bancos para a fila da comunhão nas igrejas cristãs deve, preferencialmente, começar pelo banco mais próximo ao altar, e depois pelos ocupantes dos bancos seguintes, sucessivamente, até o último. Deste modo serão evitados esbarrões, ajuntamentos, movimentos em sentidos contrários, etc. Por esse motivo os ocupantes de cada banco precisam ficar atentos à sua vez de se moverem. Quem não pretende comungar, deve permanecer sentado e não de pé ou ajoelhado. Põe-se de pé apenas no momento de dar passagem, se isto for necessário.

Livro de cantos. Em algumas Igrejas estão dispostos nos bancos, ou em uma mesa à entrada, livretos de cânticos, Bíblias, etc. Como são para o uso dos frequentadores, não podem ser levados para casa. Devem ser abertos com cuidado, de modo a não quebrar o dorso, amassar ou dobrar as paginas, ou destacá-las. As fitas de marcação de páginas devem ficar lisas e não torcidas, quando o livro é fechado.

Alheamento. O alheamento ao culto é evidente no frequentador que se engaja em uma conversação cochichada com seu vizinho de banco; no casal que troca beijinhos, acaricia o rosto, os cabelos ou o dorso um do outro; nos jovens que mascam goma, e nas pessoas que passeiam os olhos pelo ambiente, a observar os rostos, as vestes, os penteados das outras. Tais hábitos são incompatíveis com a atitude de recolhimento com que deveriam assistir às celebrações.

Carinhos inoportunos. Quando, no templo, o casal se se da as mãos, ou esta de braços dados, compreende-se que o par deseja receber, unido, as bênçãos esperadas pelas suas orações. Porém, passar distraidamente o braço por cima do ombro, pelas costas ou pela cintura, dar beijinhos, acariciar o rosto, os cabelos ou o dorso do outro, são atitudes tão contrárias à devoção religiosa que sua impropriedade perturbará a assembleia.

Goma de mascar. Não mascar goma, o que é obviamente incompatível com o recolhimento e a oração. Se entra no templo mascando, a pessoa pode descartar a goma – sem cuspi-la no chão ou pregá-la debaixo do banco –, embrulhando-a em um lenço de papel que guarda consigo até ter a oportunidade de lançá-lo em uma lixeira.

Idas ao banheiro. Prevenir-se para não necessitar ir ao banheiro durante o culto é um cuidado necessário. Quando a cerimônia é prevista ser longa, não sair de casa sem antes atender a qualquer necessidade física, inclusive hidratar-se em épocas quentes e secas. Em caso de ausentar-se durante o culto, ao retornar a pessoa deve atender às mesmas recomendações referentes à chegada após o início dos serviços.

Modos ao sentar. Cruzar as pernas ao sentar não é uma boa postura – menos ainda na Igreja. Poderá ser confortável para alguns, porem e uma postura deselegante de sentar, alem de facilitar a pessoa se distrair do respeito e atenção que deve ter no recinto sagrado. No modo correto de sentar os pés se apoiam inteiramente no chão. Não são apoiados na tábua ou almofada do genuflexório. As costas descansam contra o encosto sem se deixarem resvalar de modo relaxado para a beira do assento.

Uso do celular. A vibração é um recurso de sinal de chamada perceptível apenas para o portador do aparelho. Certifique-se de que esta opção está ativada, quando for a um serviço religioso, a um funeral, ao cinema, etc. Para atender uma chamada e necessário deixar o templo.

Saída. Ao final da cerimônia, a  saída dos fieis deve ocorrer após o sacerdote deixar o altar ou, se houver cortejo litúrgico de saída do celebrante, depois deste chegar à porta do templo. Os que estão nos últimos bancos, próximos à porta principal do templo, são os primeiros a sair (e primeiros a se despedirem do celebrante) e não devem dificultar a saída engajando-se em conversação pelo caminho, junto aos bancos, dificultando a saída dos outros. Se tem um compromisso e portanto já sabe que precisará deixar o culto antes do seu termino, o fiel deve procurar um lugar de onde possa sair discretamente.

Almoços paroquiais. Deve-se evitar tratar como garçons os paroquianos que voluntariamente ajudam a servir nas barraquinhas, festas da igreja, churrascos, etc. Cada participante ocupa o mínimo possível o pessoal de apoio. Colabora evitando manchar o forro da mesa, deixar um guardanapo caído no chão (mesmo que não seja o seu), cadeiras espalhadas, etc., e levando pratos, copos e talheres com que se serviu ao lugar próprio previsto, se não houver pessoal recolhendo tais utensílios.

FESTAS.

As religiões têm suas datas festivas que são oportunidades de confraternização entre seus fieis, e não podem ser ignoradas pelos amigos que pertencem a credos diferentes.

É uma boa prática de Boas Maneiras entre os fieis de religiões diferentes, lembrarem-se de cumprimentar um amigo por ocasião das grandes festas de sua religião . Católicos e protestantes comemoram o nascimento de Cristo a 25 de dezembro, a festa do Natal, marcada por muita alegria, confraternização e troca de presentes. Os ortodoxos celebram o seu Natal a sete de janeiro. A maior festa dos muçulmanos realiza-se ao final do mês de jejum, o Ramadã, que é observado anualmente.

Se o cristão recebeu de um judeu presentes por ocasião do Natal, deve retribuir, presenteando-o no Hanakkah, uma festa muito parecida com a festa natalina dos cristãos. Assim como eles saúdam os cristãos com votos de “Feliz Natal!”, estes devem retribuir com votos de um “Feliz Hanakkah”.

Autoridades. Deve-se respeito e reverência à autoridade religiosa (padre, pastor, ministro, etc.) não apenas nas dependências do templo mas também fora dele, ainda que o encontro aconteça em um clube, bar ou restaurante.

CUMPRIMENTAR OS CLÉRIGOS.

As autoridades religiosas e o respeito que lhes é devido.

Entre os católicos, é opcional o fiel cumprimentar o sacerdote com um beijo na mão e pedir-lhe a bênção, ou simplesmente trocarem um aperto de mão, e o mesmo vale para o bispo, de quem se beija o anel, quando o encontro ocorre no templo ou em locais de festa religiosa. Não é aceitável, na Igreja Ortodoxa, os fieis cumprimentarem com um aperto de mão um bispo ou um sacerdote. O fiel deve pedir a bênção e o cumprimento deve ser com um beijo na mão do sacerdote e um beijo no anel do bispo. O pastor protestante é cumprimentado com um aperto de mão. O rabino é cumprimentados com um aperto de mão por homens e uma inclinação da cabeça, pelas mulheres. O imã é cumprimentado com uma inclinação da cabeça por homens ou mulheres. Porém, quando o clérigo é de outra religião, o cumprimento formal é o aperto de mão.

Hierarquia. No que diz respeito à ordem de precedência, o Protocolo oficial é observado também nos eventos privados, e o anfitrião deve inteirar-se da hierarquia própria da comunidade religiosa do clérigo que tem por convidado, se este vem acompanhado de outras autoridades menores da sua Igreja. Os católicos, que tem uma profundidade hierárquica maior que as demais denominações, o Núncio Apostólico, representante do Papa, tem prioridade maior e abaixo, em ordem decrescente, os Cardeais, os arcebispos, os bispos, os bispos auxiliares, os monsenhores, e os demais sacerdotes. O tratamento que se dá ao cardeal é “Sua Eminência Reverendíssima” e “Dom” à frente do seu primeiro nome, e “Cardeal” após seu nome e à frete do sobrenome. Exemplo: Dom Tarcisius Cardeal Garaffa. Em tratamento direto se diz “Eminentíssimo Senhor”. Aos Bispos e Arcebispos, a maneira de tratar é: Senhor Arcebispo ou Vossa Excelência. Aos demais, “Reverendíssimo”. Às religiosas superioras, diz-se Excelentíssima. Senhora Superiora ou Reverendíssima Madre, seguido de “Irmã” e o nome da religiosa.

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 03-11-2006.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Religião: Tolerância Religiosa. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2006.