Homeschooling, Ensino em Casa

Hoje: 26-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Reconhecer devidamente o valor da homeschooling para crianças e jovens requer que se examine a questão em sua inteira extensão, com as muitas implicações que tem. Homeschooling é popularmente conhecida como “ensino em casa”, pelos pais, das matérias do currículo escolar, e no reconhecimento do resultado desse ensino pelas autoridades da Educação, mediante aplicação de testes. Mas não é só isto; em outra vertente menos popular e menos conhecida, homeschooling é o ensino feito em casa de matérias extracurriculares, com o objetivo de complementar o ensino escolar com matérias que elevarão o nível cultural e a maturidade da personalidade dos filhos, para satisfação de seus pais. 

A estas duas vertentes – a fim de mais facilmente me referir a elas – eu gostaria de chamá-las, respectivamente, “Homeschooling de Educação” e Homeschooling de “Formação Prática”.

A homeschooling de educação torna-se realmente necessária em situações nas quais, por alguma razão, os pais se vejam obrigados a fazer em casa o trabalho de ensino escolar de seus filhos. O modo mais simples de conduzir essa modalidade do homeschooling é, obviamente, o Estado estabelecer um exame anual versando as matérias do currículo escolar, e conceder certificado de conclusão do curso aos que forem aprovados.

A homeschooling de formação prática não engloba matéria escolar, porém é uma maravilhosa ferramenta para promover a maturidade social da criança e do jovem. Utiliza jogos sociais como dança, prática de Boas-maneiras, frequência aos teatros para assistir peças e filmes que mostrem cenas em que boas ações sirvam de exemplo. Não é uma atividade circunscrita à casa, isolada, porém será orientada e acompanhada pelos pais. Cumpre a eles escolher que atividades serão parte dessa prática que deverá estar voltada para o desenvolvimento da maturidade do jovem. A escola limitará o número de atividades aceitáveis para avaliação e os aprovados terão o diploma escolar comum acrescido de um distintivo para aquele conhecimento extra recebido e oficialmente comprovado.

A imaturidade corrói permanentemente as raízes do desenvolvimento do nosso país e me pergunto se o que pode ser feito não será um dever dos próprios brasileiros de complementar o ensino escolar com a homeschooling de formação prática.

Diante da miserável situação moral na qual o nosso povo foi deixado por séculos devido à proverbial preguiça, incompetência e desonestidade de seus líderes, a população hipnotizada pelos mais de 20 programas que estão ou estiveram em vigor, como: Programa Bolsa Família, Programa Casa Verde e Amarela, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Isenção de Taxas em Concursos Públicos, Fomento – Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, Carteira do Idoso, Aposentadoria para pessoa de baixa renda, Programa Brasil Carinhoso, Programa de Cisternas, Telefone Popular, Carta Social, Pro Jovem Adolescente, Tarifa Social de Energia Elétrica, Bolsa Verde – Programa de Apoio à Conservação Ambiental, Passe Livre para pessoas com deficiência, Crédito Instalação, Programa Brasil Alfabetizado, Identidade Jovem, Programa Nacional de Reforma Agrária, Água para Todos, Bolsa Estiagem, Programa Nacional de Crédito Fundiário etc., oferecidos pelos sucessivos governos, os brasileiros sequer percebiam como estavam sendo traídos. Foi necessária a pandemia de um vírus letal para que o povo abrisse os olhos. Há muitos brasileiros que percebem o que se passa e que poderiam trabalhar para mudar o País. Porém, as elites, em um país atrasado, são sempre egoístas e se constituem em grupos exclusivistas.

Há, porém, um saldo ainda muito bom de pessoas boas e preocupadas com nossa Cultura. Se compreenderem com acerto em que consiste a maturidade de persomaidade e como ela se estrutura na mente das pessoas, torna-se quase uma obrigação para elas se engajarem na missão de difundirem entre os educadores o esclarecimento a respeito, porque a maturidade é inquestionavelmente o caminho para a mudança profunda de que o país precisa.

Muitas atividades poderão ser veículos para despertar nas crianças e nos jovens a compreensão de quanto as atitudes imaturas levam à ruína as famílias, as carreiras profissionais, o sucesso social, a economia e o governo do país, e de que a maturidade é o caminho certo para se alcançar o progresso.

O teatro educativo pode ser um trabalho prazeroso e pleno de possibilidades de carregar mensagens sobre a importância que tem a maturidade pessoal e como ela pode ser estimulada.

O esporte oferece as vantagens a que me referi sob o título “Campo específico da disciplina Maturidade” em meu livro “Contribuição ao Estudo da Disciplina Maturidade” (2022, 100 páginas).

Existe uma prática muito querida de todas as famílias e muito apreciada no Brasil, que remonta ao século XVIII, e poderia ser aprimorada. Por meio dela, os jovens têm oportunidade de aprender a empatia, a determinação e firmeza de propósitos, o permanente apelo à razão, a merecer a confiança e a admiração das pessoas, enfim, tudo que caracteriza a pessoa madura. É o chamado “baile de debutantes”.

Essa prática, hoje afogada na cocaína e na maconha, na cerveja, na luxúria e nos abusos sexuais, poderia se transformar em uma ótima opção para a homeschooling prática.

No sentido em que foi criado, o baile de debutantes é o coroamento de um projeto educativo independente e sui generis. Bastante semelhante ao que surgiu no século XVIII junto às cortes das monarquias europeias, tem como finalidade educar as meninas para a vida social e a direção do lar. Mas, gradualmente, essa vinculação palaciana se desfez e o baile passou a ser promovido por entidades várias. Manteve-se, porém, na era republicana, associado a um programa educativo bastante disciplinado – quando organizado por igrejas, escolas e entidades filantrópicas –, porém, muitas vezes não passa de uma festa meramente estelar, promovida por clubes e hotéis de luxo, sem qualquer exigência prévia senão o pagamento de taxas exorbitantes aos seus organizadores. A palavra “debutante” vem do francês debutante, que significa iniciante ou estreante.

Na modalidade em que é mais fiel à sua antiga formulação, o baile das debutantes é promovido por uma comissão organizadora, que convida uma ou várias patronesses, e é precedido por uma etapa de ensino prático. Seu programa compreende, principalmente: engajamento em um trabalho social caritativo, lições de boas maneiras e etiqueta com a realização de chás e coquetéis, nos quais as candidatas são observadas e corrigidas pela patronesse ou pelas senhoras da comissão. São feitas explanações sobre cidadania, política e economia, em visitas guiadas à sede dos Poderes municipais, estaduais, federais, museus e locais históricos, projetos em administração pública, projetos de assistência social, projetos industriais etc.

As escolas que já promovam anualmente o “debut” de suas alunas, caso aceitem, poderão admitir no programa do baile os rapazes que serão seus pares, geralmente com idade entre quinze e vinte anos, e antes do ingresso na universidade.

As jovens receberiam a orientação de estarem sempre focadas em como agir com maturidade, com atenção e com seriedade durante as exposições que fossem feitas, e no comportamento austero e correto, como demonstração de estarem imbuídas de um desejo verdadeiro de apresentar um comportamento maduro. O que aprenderiam na semana do projeto não se vincula a nenhum nível do currículo escolar. Representariam um conjunto de conhecimentos considerados o mínimo necessário para a integração e o início da participação social responsável da jovem.

Coloco aqui um trecho do diário de uma debutante no qual ela fala das etapas do projeto do qual fez parte e cuja foto, abre este capítulo. Vê-se que o projeto teve duração de 5 dias.

02-10-1979

Tivemos uma manhã de formação no colégio, com palestras, lanches e homenagem as mães. Tivemos também aula de boas maneiras, como descer e subir escadas, como caminhar, sentar-se, etc.

03-10-1979

Saímos do colégio de ônibus para visitar a cidade. Fomos ao congresso e conhecemos o líder da arena Nelson Merquesã, que nos mostrou a Câmara. Em seguida conhecemos Pedro Simon. Daí fomos para a Catedral onde fizemos um lanche e em seguida fomos para o Palácio da Alvorada, daí seguimos para a sede do jornal Correio Brasiliense onde tiramos fotografia.

Na noite do mesmo dia fomos a um coquetel na casa da Dona Moema. Após o coquetel serviram um jantar de strogonoff.

04-10-1979

Missa de ação de graças no Santuário de Fátima.

05-10-1979

06-10-1979

Baile de Debutante no clube ASCB.

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NOTA: O programa do dia 5 não foi mencionado, possivelmente porque a debutante esqueceu de anotá-lo. É provável que a visita tenha sido a uma casa de caridade, um evento quase obrigatório nas atividades do baile de debutantes.