Hoje: 02-11-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
No sentido com o qual foi criado, o Baile-de-debutantes é o coroamento de um projeto educativo independente e sui generis. Surgiu no século XVIII junto às cortes europeias, com a finalidade de educar as meninas para a vida social e a direção do lar. Esta era praticamente a única alternativa à vida religiosa em um monastério. Mas, gradualmente essa vinculação palaciana se desfez, e o baile passou a ser promovido por entidades várias, ora associado a um programa educativo bastante disciplinado – quando organizado por igrejas, escolas e entidades filantrópicas –, ora meramente uma festa estelar, promovida por clubes e hotéis de luxo, sem qualquer exigência prévia senão o pagamento de taxas exorbitantes aos seus organizadores. A palavra “debutante” vem do francês débutante, que significa iniciante ou estreante.
Na modalidade em que é mais fiel à sua antiga formulação, o Baile das Debutantes é em geral promovido por uma Comissão Organizadora, que convida uma ou várias patronesses, e é precedido por uma etapa de ensino prático. O programa compreende, principalmente:
- engajamento em um trabalho social caritativo;
- lições de Boas Maneiras e Etiqueta com a realização de Chás e Coquetéis, nos quais as candidatas são observadas e corrigidas pela patronesse ou pelas senhoras da Comissão; e
- explanações sobre cidadania, política e economia, em visitas guiadas à sede dos poderes municipais, estaduais, federais; a museus e locais históricos.
A formação das debutantes e o baile não se vinculam a nenhum nível do currículo escolar, e sim a uma idade considerada apropriada para a integração e início da participação social responsável da mulher, geralmente entre quinze e vinte anos, e antes do ingresso na universidade.
O Baile-de-debutantes é chamado nos Estados Unidos Cotillion [do francês cotillon]. De acordo com os dicionários, a palavra francesa refere-se a uma dança de quatro pares ou “quadrilha”, em baile muito animado no qual são distribuídos brindes ou se fazem leilões ou jogos de salão. O significado da palavra no francês não a recomenda muito: a expressão Courir le cotillon significa “procurar por mulheres de condição inferior”, ou ainda como na frase “Mais en revanche, lorsque sonne l’heure de danser, de festoyer et de rire, on les retrouve bonnes premières à la tête du plus endiablé des cotillons.” (o mais endiabrado dos cotilhões – www.agora.qc.ca/encyclopedie, 2007).
Apesar disso, a palavra passou a ser empregada na América do Norte para designar um baile conjunto de várias debutantes promovido por um comitê, a fim de distingui-lo do luxuoso baile de uma única debutante promovido por sua própria família. O sentido pejorativo desse emprego é óbvio.
Na imprensa internacional e nos países europeus e da América Latina não se vê, até o presente, a utilização do termo Cotillon. A expressão usada é “Baile-de-debutantes” como o que se realiza anualmente em Paris, no Hotel Crillon, na Place de la Concorde, do qual participaram, em 2006, de acordo com o noticiário, 23 moças com idade de 17 a 21 anos, filhas de gente famosa, representando quinze países.
A denominação “cotilhão”, em português, ou a francesa cotillon, ou a palavra cotillion em inglês, com um “i” a mais, poderia aplicar-se, talvez, a alguns bailes de debutantes semi-anárquicos, realizados sem a prévia educação das moças (por omissão de suas famílias ou da comissão patrocinadora), no qual são introduzidas exibições de mágica, jogos de salão, troca de roupas, dança das cadeiras, jogar gente na piscina, etc. criando uma agitação de gosto popular. Na América é comum a jovem participar de vários cotillions, o que é inconcebível para o Baile-de-debutantes, pois a introdução social, o debut, pelo seu próprio significado só pode acontecer uma vez.
A Comissão Organizadora. A criação de uma Comissão Organizadora é o primeiro passo para o planejamento do Baile-de-debutantes, e deve começar até um ano antes. Sua constituição pode ser uma iniciativa das próprias mães que se organizam para promover o projeto ou fazem um pedido à direção do Colégio para que promova o baile. A Comissão convida uma ou mais senhoras representativas do melhor estrato social da comunidade, que compreendam o potencial educativo do projeto e, imbuídas de espírito filantrópico, aceitem emprestar os seus nomes e prestígio, e seus esforços e ajuda financeira, para a realização do baile. Se a comissão não tem entre seus membros pessoas experientes em iniciativas desse tipo, é conveniente que sejam ouvidos alguns consultores de eventos (cerimonialista) que indicarão as metas quanto à parte festiva do projeto, e uma Assistente Social que possa sugerir a atividade beneficente (item “a”) que as debutantes deverão executar como parte do projeto. A Comissão não deve confiar muito em “novas modas” sugeridas pelas candidatas ou pelos cerimonialistas, que possam vulgarizar o evento planejado, e torná-lo para todos uma recordação não muito satisfatória.
A Comissão não poderá convidar mais ninguém que se torne pessoa mais importante que a patronesse, o que consistiria em grande falta de consideração com a pessoa que aceitou despender seu tempo e prover recursos para o projeto. Havendo uma ou mais patronesses, elas representam a sociedade e serão as convidadas de honra, que receberão os comprimentos do pai e da jovem debutante na apresentação, na ocasião do baile. Porém, se o evento é organizado e financiado por uma comissão de mães das debutantes, então elas escolhem a senhora de mais consideração que possam convidar, por exemplo, a esposa do prefeito ou do governador, a esposa de uma grande empresário ou do presidente de um clube local importante, etc., e esta representará a sociedade como convidada de honra da Comissão Organizadora. Embora muitas moças fiquem empolgadas com a ideia de convidar um astro da televisão ou da música, é duvidoso que tal personagem seja de fato um representante expressivo da sociedade. chamá-lo de “príncipe” é, com certeza, um grande despropósito.
Feito o rascunho do programa, a comissão poderá estimar os custos de todas as etapas e passar os cálculos à patronesse, ou pensar nos modos de financiar o evento tanto em sua parte educativa quanto na realização final do baile. Isto implica em fixar as dimensões pretendidas para a celebração, o local para o baile, o montante a ser destinado à atividade caritativa, os horários para as aulas de Etiqueta, as excursões e visitas vinculadas às atividades cívicas, o custo da orquestra, o custo do bufê e de todos os demais itens incorporados à programação.
Planejamento definitivo. De posse das informações básicas e bem assente o propósito de promover o Baile, a comissão constituída estabelece sua escala de trabalho e faz entre seus membros a distribuição de tarefas e responsabilidades. Pode então promover uma reunião com todas as mães potencialmente interessadas no evento, a fim de saber quantas vão aderir ao projeto e comprometer-se a fazer sua parte e a assistir a filha no que lhes competir. A candidata deve mostrar vontade de participar dos projetos de ajuda à comunidade.
Dispondo de recursos, a Comissão poderá optar pela contratação de um cerimonialista (pessoa encarregada de ajudar na organização e condução de cerimônias) para assistir às reuniões do comitê e colaborar nas decisões quanto ao aluguel de salão, à decoração, à seleção e pagamento de direitos autorais das músicas, supervisionar cabelo, vestido e maquiagem, e a todas os detalhes que são da sua área de assessoramento, inclusive para os últimos preparativos no dia da festa. Poderá também comprar um pacote incluindo o bufê, a decoração, a segurança, a orquestra ou conjunto musical, o que deixará mais tempo livre para a coordenação das atividades culturais.
A Comissão terá menos trabalho se contratar uma empresa de festas para o coquetel que precede (Os garçons começam a servir salgados e bebida nas mesas, a cada grupo de convidados que chega), e para o jantar que deve suceder à apresentação das debutantes. O menu do jantar e o cardápio das bebidas terão influência direta nos custos e precisam ser definidos já na primeira planilha de previsão de despesas. As bebidas são principalmente refrigerantes e coquetéis com ou sem álcool, uísque, vinho e champagne. Uma outra modalidade, que poderá ser menos dispendiosa, é o coquetel-dançante, em substituição ao coquetel e jantar.
Alguns locais que podem ser alugados, como sedes de clubes e associações, com frequência já possuem um serviço de bufê próprio, o que poderá dispensar a contratação de um serviço de festas e baratear o baile, sem prejuízo do nível do evento. Porém, nem um jantar nem um bufê precisam entrar no programa. Os pais poderão cuidar, cada um, da despesa de sua mesa junto ao bar (se o baile for em um clube).
É conveniente procurar um fotógrafo cujo trabalho seja conhecido ou recomendado. Isto evitará que seja contratado um desses profissionais que exageram nos preços com incrível desembaraço e são rudes na hora de cobrar pelo trabalho, mesmo que este não seja satisfatório. Poderá ser necessário que sejam contratados dois ou mais fotógrafos, caso seja uma festa para muitos convidados, e para que possa haver cobertura completa de todas as atividades sociais.
A decoração tem que ser decidida, ainda que apenas em linhas gerais, quanto ao tema, às cores e aos demais elementos decorativos que possam influir no custo. O colorido forte, como verde, azul escuro, laranja e vermelho, sobrecarregam o ambiente. Branco, tons de azul e prata são cores mais tradicionais nesse baile, embora não necessariamente as únicas.
Termo de compromisso. A comissão elabora um termo de responsabilidade que será assinado pelos pais e devolvido. Nele os pais autorizam a participação da filha, e aceitam como será realizado e avaliado o projeto beneficente e o aprendizado de comportamento social, e também as consequências para a candidata que resultarão da não aprovação do seu desempenho. O termo estabelecerá também o comprometimento quanto aos trajes para o baile, tanto da debutante como da sua mãe, do seu pai e do seu acompanhante. A patronesse ou patronesses precisam comprometer-se a participar de todas as reuniões e eventos para os quais a Comissão Organizadora as convocar. É esperado que estejam presentes na definição dos projetos beneficentes e na reunião de avaliação; que promovam as pequenas recepções para as candidatas e suas mães a fim de dar às jovem oportunidade para a prática das lições de Boas-maneiras e Etiqueta que devem aprender; que colaborem na escolha e aquisição do “Presentinho da dama” para as debutantes, e que não faltem ao baile de apresentação.
Compromissos da patronesse. A patronesse ou patronesses precisam comprometer-se a participar de todas as reuniões e eventos para os quais a Comissão Organizadora as convocar. É esperado que estejam presentes na definição dos projetos beneficentes, na reunião de avaliação, que promovam as pequenas recepções para as candidatas e suas mães, a fim de dar às jovens oportunidade para colocarem em prática as lições de Boas Maneiras e Etiqueta que devem mostrar conhecer, e que não faltem ao baile de apresentação.
Compromisso de trajes. A mãe da debutante deve ser avisada de que deverá usar um vestido longo para o baile, com todas as suas joias, e vestido curto para os Chás, com poucas joias. Para o pai e o par ou acompanhante, que dançará com a debutante depois de seu pai também usa traje a rigor e deve comprometer-se com ela quanto a esse particular. Distinguem-se para o homem o “black tie” e o “white tie”. O primeiro compõe-se de calças e paletó pretos, camisa branca e gravata borboleta preta, e pode ter uma faixa à cintura. O segundo, white tie, tem camisa com peitilho e colarinho duro de ponta virada, colete de piquê branco, gravata branca e fraque preto, luvas de pelica ou camurça branca, e sapatos pretos de verniz, e será usado se o baile for de grande gala
A mistura de classes de variado poder econômico e o entendimento diferente do que seja um traje “passeio completo” tornarão difícil de conseguir uma padronização dos trajes entre os homens. O smoking alugado é a melhor solução para esse problema. Seu pai, padrasto ou outro membro da família, que o substitua, e o par, devem comprometer-se a envergar um smoking durante o baile.
O vestido clássico da debutante é o branco, e deve ser leve e de corte recatado mas elegante, simples, desprovido de babados, aplicações ou rendas brancas, e sugerindo uma coisa leve, vaporosa e alegre, sem nenhum traço de rosa ou amarelo. Um vestido de cor diferente, ainda que clara como champagne ou marfim, retira um bom pedaço da autenticidade do baile.Usa também luvas brancas, longas até o cotovelo, e um buquê na mão direita. A pequena tiara de brilhantes (ou de strasse) que foi um acessório obrigatório da vestimenta da debutante, vestígio da época em que os bailes aconteciam nos salões da corte, não tem sido mais uma exigência. Não é usado vestido que deixa nus os lados ou as costas. Os sapatos salto-alto são de cetim, delicados porém suficientemente fortes para não soltarem o salto ou se romperem com a dança que pode se estender até por várias horas. Leva nas mãos um pequeno buquê de flores.
O buquê é de pequeno diâmetro, quase plano no topo, e com as hastes das flores firmemente presas num envoltório de papel enrolado em uma fita de seda colorida, em geral cor de rosa ou amarela, formando um cabo curto, do qual pendem uns trinta centímetros de fitas estreitas e soltas. Pode ser formado, por exemplo, com alguns botões de rosa cor de rosa no centro, envoltos em violetas brancas e mais um círculo externo de rosas cor de rosa, por sua vez circundadas por outro círculo de violetas brancas. Outras cores e formatos são usados, sempre em cores suaves e alegres. Existem alternativas elegantes como uma simples rosa artificial, com uma minúscula luz inserida no miolo que é mantida acesa e espalha um um leve brilho sobre o rosto e o vestido da jovem, quando a luz do salão é reduzida para explorar esse efeito.
É um dos efeitos esperados do baile que ele influa no conceito de relacionamento social da família da debutante, e a roupa de gala (igual para ricos e pobres) é fundamental para isso, pois dá à pessoa um sentimento de integração social que estimula sua auto-valorização.
O problema é o transporte para o local do baile, se alguma das famílias não tiver carro e precisar ir de metrô ou ônibus, e também o acompanhante. Esta situação deve ser previamente discutida com a Comissão Organizadora para que seja reservado um local junto ao salão de baile, porém antes da passagem pelo serviço de segurança da entrada, onde seja possível vestir o traje da festa levado em uma maleta.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 02-05-2007.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Baile de Debutantes. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2007.