Pierre Ramée (Petrus Ramus)

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

 Pierre de la Ramée, filosofo e humanista francês – conhecido por Petrus Ramus como autor – era filho de Jacques de la Ramée e de Jeanne Charpentier. Sua família, fidalga de origem belga, ficou pobre quando, em 1468, Liège foi saqueada e destruída pelos franceses sob o comando de Charles o Témerário. A família mudou-se para a região de Picardie, na França, e lá nasceu Pierre de la Ramée, em Cuts (próximo Noyon), Vermandois, em 1515. Faleceu em Paris a 26 de agosto de 1572. Foi um dos sábios que, por enfatizarem a aplicação das teorias cientificas na resolução de problemas práticos, ajudou a formular o método operacional da busca pelo conhecimento da natureza que caracterizou a Revolução Cientifica.

 Ramus começou a trabalhar muito cedo no pastoreio de gado, empregado por seu pai. Mas, aos oito anos, um forte desejo de aprender o levou a fugir para Paris. Porem, a falta de recursos o obriga a retornar.

 Em 1527 na idade de 12 anos, seu tio materno Honoré Charpentier, indo procurar trabalho em Paris levou o sobrinho em sua companhia, decidido a pagar seus estudos. Porém pode fazê-lo apenas por alguns meses. Então Ramée, para continuar seus estudos no Colégio de Navarra, se emprega como criado de um aluno rico, e passa as noites a estudar. Fez rápido progresso na língua e na literatura antiga. Decepcionado com a chamada “ciência aristotélica” procura demonstrar em sua tese de mestrado, em 1536, que Aristóteles não era infalível; e seus argumentos são considerados brilhantes e ganham grande repercussão.

 Após seus estudos, Ramus, ensinou, primeiro no Collège du Mans, e em seguida, acompanhado de dois amigos que compartilhavam seu desejo de reformas, Omer Talon de Beautais, habil professor de retórica, e Barthèlémy Alexandre de Champagne, um helenista de reconhecido saber, que fazia questão de conhecer o pensamento grego em sua língua original –, no Collège de l’Ave Maria. Os dois estabelecimentos pertenciam à Universidade de Paris.

 Encorajado pelo sucesso de sua tese, ele decidiu examinar cuidadosamente a doutrina aristotélica e publicou dois livros de crítica a Aristóteles, particularmente à sua Lógica, que semearam na escola grande perturbação. Ele publicou sua Nova Lógica em três obras, incluindo Animadversiones Aristotelicae em 1543.

 Acusado e julgado por impiedade – e porque se recusa a cumprir todas as condições dos juízes –, por decreto do rei, Ramus ehh taxado de imprudente, arrogante e despudorado, seus livros são confiscados e é proibido de ensinar e escrever contra Aristóteles, sob pena de sofrer castigos corporais.

 Desde que foi proibido de ensinar e publicar filosofia, Ramus voltou-se para a matemática, e devido a mortandade pela peste haver provocado escassez de professores, Ramus foi reintegrado no ensino. Em 1547 o Cardeal Charles de Lorraine recorreu a Henrique II para que a proibição contra Ramus fosse levantada e ele então foi nomeado para o Collège de Presles, onde logo se tornou reitor. Pode também voltar a publicar textos. Em 1551 foi apontado como Regius Professor de Filosofia e Eloquência no Collège de France.
Em 1561 Ramus abandonou a Igreja Católica e se tornou calvinista. Neste ano, ele propôs importantes reformas no ensino e na estrutura da Universidade de Paris. Convencido de que a matemática era de fundamental importância para todo o ensino, ele propôs a criação de uma cadeira dessa disciplina na Universidade, tendo dotado a cadeira com recursos do seu bolso.

 Com a eclosão na Franca, em 1562, da guerra religiosa entre Católicos e Protestantes os calvinistas foram obrigados a deixar Paris que estava sob controle brutal das forcas católicas comandadas pelo Duque de Guise. Temendo pela própria vida, Ramée refugiou-se em Fontainebleau, onde teve a proteção do rei Henrique III e da rainha mãe Catarina de Médici. Assinada a paz em março de 1563, ele retorna a Paris. Novo surto da guerra o obriga a deixar a cidade e o ensino uma segunda vez em 1567. No ano seguinte, 1568, Ramus retornou brevemente a Paris, onde encontrou sua biblioteca destruída, e solicitou a permissão do Rei para visitar algumas grandes universidades na Europa. De 1568 a 1570 lecionou matemática em Heidelberg, Alemanha; e em Genebra e Lousane, na Suíça. A assinatura de um novo tratado, a paz de Saint-Germain, lhe permitiu retornar a Paris. Teve a promessa de proteção dada pelo Rei, mas foi proibido de ensinar.

 A proteção real foi de pouca valia para Ramée. Em 1572, três mil huguenotes reunidos em Paris para comemorar o casamento de Marguerite de Valois com o protestante Henrique III de Navarra foram massacrados na véspera da festa de S. Bartolomeu e Ramus foi assassinado por pistoleiros de aluguel dois dias depois em sua sala no College dês Presles. Seu corpo foi arrastado pelas ruas de Paris, decapitado e jogado no Rio Sena.

 Após sua morte violenta, suas idéias concernentes a organização lógica e sua proposta de metodologia foram grandemente difundidas nas partes protestantes da Alemanha, na Grã-Bretanha e na Nova Inglaterra durante o século XVII.

PENSAMENTO

 Ramée desenvolveu o “método” como um conceito pedagógico significando a comprovação das teorias através de sua aplicação prática. Ele não aceita o uso de hipóteses teóricas para decidir entre teorias, mas advoga que se baseie a teoria em evidencias observáveis.

 Quanto às disciplinas acadêmicas, seu método visava “… a organização de coisas diferentes, de tal forma que todo o assunto possa ser mais facilmente entendido e ensinado”.

 Segundo ele, a Lógica não permite apenas a análise das proposições, mas pode ser empregada também na análise das organizações, e encontrar nelas uma “organização lógica”, pensamento que Johannes Althusius adotou em sua Politica Methodice Digesta.

 Ramée considera a boa organização das matérias importante não só para fins de ensino e aprendizagem, mas também para a descoberta e clarificação do conhecimento. Além da organização horizontal, Ramus dá critérios para a ordenação descer a partir da idéia mais geral para as diversas divisões dela.

 Usando esta filosofia, ele se propôs a reorganizar as sete artes liberais conforme as seguintes três “leis do método”:

 (I) somente coisas que são verdadeiras e necessárias podem ser incluídas;

 (II) todas e apenas as coisas que pertencem à arte em questão devem ser incluídas;

 (III) coisas gerais devem ser tratados de uma maneira geral, as coisas particulares de uma maneira particular própria.

 Usando essa abordagem, Ramus trabalhou em muitos tópicos e escreveu uma série de livros sobre lógica e retórica, gramática, matemática, astronomia e ótica.

 Ramus antecipou que a matemática deveria ser aplicada à astronomia e parece ter acreditado deste o início na teoria heliocêntrica de Copérnico. É reconhecido que, ao enfatizar a importância central da matemática e insistir na aplicação da teoria científica para resolução de problemas práticos, Ramus ajudou a formular a busca pelo conhecimento operacional da natureza que marcou a Revolução Científica.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 09-01-2011.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Época, vida e obra de Pierre Ramée (Petrus Ramus). Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2011.