Robert Griers Reeves

Hoje: 26-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

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NOTA: O engenheiro de minas e geólogo Robert Grier Lefevre Reeves que, por ver em mim um jovem desejoso de aprender e com uma educação básica que julgou que poderia ser refinada, não perdeu a oportunidade de me passar, de maneira sempre sutil e cortês, preceitos de boas maneiras e etiqueta. Casado com uma senhora de fina educação, Reeves integrou a equipe seleta de geólogos que mapeou o quadrilátero ferrífero em Minas Gerais nos anos 1957 a 60. Meu primeiro emprego, depois de graduado, foi um contrato com a Companhia Belgo Mineira para ser o seu auxiliar de campo. Apesar de ser eu apenas um jovem principiante que o tratava por “Mister” Reeves, ele me dispensou amizade e me integrou no círculo de seus colegas e amigos em Belo Horizonte. Em João Monlevade, eu compartilhava com ele o apartamento no Cassino, e com ele fazia as refeições, na sala especial que lhe era reservada. Ele também fazia por me incluir nos convites que recebia para os jantares oferecidos a visitantes ilustres, americanos e europeus, na velha mansão sede da Companhia, ocasiões para mim de aprender sobre licores, vinhos, serviços à mesa, modo de cumprimentar, de apresentar pessoas, etc, cabedal de conhecimentos que me levaram a escrever mais tarde minhas páginas de Boas Maneiras e Etiqueta.

Fazenda que foi residência de João Monlevade, restaurada.

Ficou dessa época também a lembrança do meu primeiro desastre à mesa, quando certa tarde fomos tomar chá com uma senhora luxemburguesa, e canhestramente fiz virar a chávena de porcelana, derramando o líquido sobre a magnífica toalha de lã tirolesa, felizmente sem quebrar a chávena.

Houve porém um acidente entre eu e o Reeves com grande reperccussão os meios geológicos, porque foi na verdade considerado uma grande piada. Reeeves deixou-me sentado no banco de trás da Rural em que viajávamos e foi com o Diretor da Mineração Trindade, subsidiária da Belgo Mineira, mostrar a um visitante ilustre, autoridade do Serviço Geeológico Americano, alguma coisa no campo ali perto. Estranheei que fossem a pé, deixando o carro aparentemente só para desse modo me reterem no posto. Quando ele, o diretor da Mineeraação Trindadade e Samitre, e o visitante, voltaram, despejaram amostras de rochas por baixo do assento dianteiro, em que o visitante americano se sentava. Rolou por baixo desse assento o pedaço de um mineral que não tive dúvidas em reconhecer: era uma bela amostra de autonita, um minério de uranio raro.

Quando exclamei surpreso que era coisa de muito valor, o visitante perguntou um pouco chateado para Reeves. “—Você contou pra ele?”. Reeves negou que me tivesse dito qualquer coisa pois parece que conduziram a captura daquela amostra em grande segredo. — Rubem, não fale nada com ninguém por que essa notícia causaria grande celeuma na Imprensa. —Não direi nada a ninguém salvo ao meu chefe Dr. Francisco Pinto. Fique tranquilo. – Me inquietava o fato de que eu não sabia onde, exatamente, as amostras haviam sido colhidas, mas confiei que o Diretor da Samitre que nos acompanhava certamente poderia precisar o local daquela ocorrência a nosso chefe Dr. Francisco, em Belo Horizonte. Ora, se a preocupação de não me levar fora por desejarem ocultar o achado, perderam seu tempo, porque eu reconheci o mineral, mas era cômico eu ter feito uma descoberta por mim mesmo mas não saber onde! A Direção da Belgo desconhecia aquela ocorrência, o que indica que nem Reeves nem o Diretor da Mineração Trindade sabiam do que se tratava. Na época havia uma intensa buca por minerais de urânio, razão de eu conhecer alguns deles. O Diretor Superintendente da Belgo, Dr. Joseph Hine, mandou me chamar ao seu gabinete para agradecer a informação.

Reeves convidou-me frequentemente para jantar em sua casa em companhia de seus convidados e finalmente homenageou-me com uma festa de despedida, quando deixei a Companhia para ir lecionar como professor assistente na Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco. Retribui essa sua homenagem com um coquetel em minha casa, com garçons e orientação do gerente do Hotel Amazonas, oferecido a toda a equipe técnica da Missão Americana. Também o eminente cientista meu ex-professor Giorgio Schireiber, foi um dos convidados. Também dediquei a Robert Grier (impresso erradamente “Gregory”) Reeves a minha tese de doutorado em Geologia.

Encontrei-me com Reeves ainda uma vez em Washington, em 1964. Eu contava 30 anos, era a primeira vez que eu visitava a cidade. Reeves e Da. Bodete fizeram grande empenho em que eu e minha mulher deixássemos o hotel para ficar em sua casa. Declinamos do convite, mas aceitamos um jantar em sua casa e que nos mostrassem os principais pontos turísticos da cidade.

Participamos juntos eu e Reeves de um almoço, a convite de John Dorr, no refinado Clube Cosmos, onde mulheres não entravam, motivo de Dona Ann Dorr ocupar-se de minha mulher, levando-a para um pequeno giro de compras pela cidade, enquanto almoçávamos.

Reeves, no último dia de nossa permanência em Washington, levou-me para uma audiência com o Diretor do Serviço Geológico Americano, no Ministério da Agricultura. Aproveitei a inesperada visita para sugerir que fosse enviado ao Nordeste do Brasill um especialista para estudar a gipsita da Chapada do Araripe, em Pernambuco, para fabricapão de painéis de gesso. Não houve promessa mas alguns meses depois aconteceu que chegou um geólogo americano a Recife com essa missaão. Dpois da enrevista nos despedimos, na calçada do edifício.

Haver conhecido e trabalhado com Robert G. Reeves foi um grande marco em minha vida. Retornando ao Brasil, seguiram-se anos de austero trabalho de campo em regiões inóspitas e em companhia de gente rude, e também muitos encontros e reuniões com burocratas, industriais, estrangeiros em missões técnicas, etc. Pude então constatar, que tanto maus modos quanto boas maneiras e polidez podem se manifestar onde seria menos de se esperar.

Inesperada, por exemplo, a arrogância generalizada dos geólogos franceses, compensada pela agradável surpresa que foram para mim a nobreza e sofisticação cultural de um alemão ex-nazista, professor na universidade do Recife; a elegância e fino trato de um hindu de origem judaica com quem fiz algumas viagens em meu mapeamento do noroeste do Ceará; e, entre os brasileiros, a dignidade natural do nosso sertanejo.

Aprendi, com essa grande variedade de experiências, que em qualquer circunstância e a todo momento, e não importa a classe nem a nacionalidade, as pessoas efetivamente maduras têm um toque natural de cometimento e respeito, uma cortesia espontânea que deixa a lembrança de um conhecimento agradável, cria o prazer em revê-las, e faz parecer que, apesar de tudo, este mundo ainda é um bom lugar em que viver!

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 01-07-2021.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Robert Griers Reeves. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2021.