Príncipes de Orange-Nassau

Hoje: 28-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Orange, Os Príncipes de. – Nos chamados Países Baixos, o domínio do calvinismo entre as províncias do norte e do catolicismo nas províncias do sul causou a separação do norte constituindo, através de um acordo em Utrecht uma união liderada pela Holanda, a principal província do norte, e sede em Haia, em 1579 para resistir ao domínio espanhol. constituindo uma República ou Estados Gerais com sede em Haia. Os príncipes de Orange, cujas possessões faziam parte da união, se impuseram como chefes militares garantindo a liberdade da República.

O conde João VI de Nassau-Dillenburg, nascido em 1535 (governou de 1559 a 1606) – vincula-se a nossa página sobre Althusius. Foi o segundo filho do Conde William I de Nassau-Dillenburg, e irmão de William I de Orange. Foi o principal autor do tratado de União de Utrecht, assinado em 1579, unificando as sete províncias protestantes do Norte, que passaram a constituir a moderna Holanda, como resposta à união das províncias católicas do sul, de língua francesa, que constituem a moderna Bélgica. João VI morreu em 1606 em Dillenburg. Foi casado três vezes e teve um total de 24 filhos.

João Mauricio de Nassau, filho de João VII e neto de João VI, iniciou cedo sua vida militar, e em 1626 tornou-se capitão. Em 1629 participou da conquista de Den Bosch e em 1636, da fortaleza de Schenkenschans. É um personagem histórico que interessa à minha página sobre o Padre Vieira, quando este encorajava os baianos a repelir a segunda investida dos holandeses no Brasil.

O êxito das armas holandesas conduzidas pelo príncipe Maurício de Nassau levaram a Espanha a propor um armistício em 1609, o que significava tratar as Províncias Unidas como independentes e soberanas, e abrir mão de garantias para os católicos. Porém a guerra com a Espanha foi reiniciada em 1621 sob a liderança de Maurício, que não conseguiu o êxito que prometera, falecendo em 1625. A ameaça aos Estados Gerias agravou-se porque, além das vitórias do exército espanhol, a Áustria, que então combatia os protestantes na guerra dos 30 anos, aliou-se à Espanha e isto era uma ameaça à união federativa dos Estados Gerais, oficialmente calvinista.

Johan Maurits van Nassau foi apontado como o governador das possessões holandesas no Brasil em 1637 pela Companhia das Índias Ocidentais da Holanda soa recomendação de Frederico Henrique.Desembarcou em Recife, o porto de Pernambuco e principal fortaleza dos holandeses, em Janeiro de 1637 Por uma série de expedições bem sucedidas, aumentou as possessões holandesas até Sergipe, ao sul, e até São Luís do Maranhão, no norte .Com a ajuda do famoso arquiteto Pieter Post, de Haarlem, ele transformou Recife em uma nova cidade, decorada com esplêndidos edifícios públicos e jardins, rebatizada, em sua homenagem, Mauriceia. Trouxe consigo Caspar Barlaeus que descreveu e retratou suas obras.e o pintor Abraham Willaert . Ele também estabeleceu um conselho municipal em que católicos, protestantes e judeus participaram juntos. Impôs também um tipo de ordenação urbana que estimulou o crescimento do Recife. No entanto, o custo de suas obras contrariou os diretores da Companhia das Índias Ocidentais, que assim escolheram perder a colônia. O príncipe recusou-se a governar a menos que lhe fosse dada liberdade de ação, e, não atendido, voltou para a Europa em Julho de 1644.

Em 1635 O irmão e sucessor de Maurício por ocasião de sua vinda para o Brasil, Frederico Henrique, foi escolhido Chefe dos Estados Gerais, assinou uma aliança das Províncias Unidas com a França, estabelecendo que seria dividido entre os dois países aquilo que fosse conquistado de partes das províncias do sul (atual Bélgica), em poder da Espanha. Recapturou terras perdidas para os Espanhóis enquanto o Almirante Maarten Tromp comandando a marinha holandesa, derrotava em 1639 uma armada Espanhola que tentaria a invasão da Holanda por mar frente à costa inglesa. Além de suas vitórias, aumentou seu domínio pessoal sobre os deputados dos Estados Gerais, casando seu filho Guilherme com uma filha de Carlos I, rei da Inglaterra e de Henrieta Maria, irmã do rei da França Luís XIII. Conseguiu o apoio da Inglaterra e da França, prestígio que o teria feito rei da Holanda, não viesse a falecer em 1647.

Logo que retornou à Holanda, Maurício de Nassau foi nomeado pelo irmão Frederico Henrique para o comando da cavalaria do exército holandês, e tomou parte nas campanhas de 1645 e 1646. Quando a guerra terminou com a Paz de Münster em janeiro de 1648, ele aceitou o cargo de governador de Cleves, Mark e Ravensberg, e mais tarde de Mindenna Renânia. Seu sucesso foi tão grande como o que teve no Brasil. Em 1664 ele voltou para a Holanda, e quando estourou a guerra com a Inglaterra foi nomeado comandante-em-chefe do Exército Holandês. Foi administrador militar da Frísia e de Groningen, para defender a fronteira oriental das províncias. Em 1675 sua saúde o obrigou a desistir de serviço militar ativo, e ele passou seus últimos anos de vida em Cleves, onde morreu em dezembro de 1679.

Os Estados Gerais negociaram em Munster, na Westfália, uma paz permanente com a Espanha, assinado em 1648, ato que restituiu prestígio ao colegiado dos Estados Gerais. No ano seguinte, 1649 Charles I da Inglaterra, foi decapitado. Guilherme II (casado com Maria Stuart, filha de Carlos I, irmã de Carlos II e Jaime II da Inglaterra), sucessor de Frederico Henrique decidiu recuperar para a casa de Orange a posição de líder dos Estados Gerais pela força e fazer guerra à Inglaterra para vingar seu sogro, Carlos I, decapitado pelos republicanos de Cromwell em 1649. Em 1650 invadiu Haia e prendeu seis dos representantes de províncias integrantes do Colegiado dos Estados Gerais. Enviou uma força para dominar Amsterdã, que resistiu com o apoio do povo. Foi feito o sítio da cidade que finalmente se rendeu. Era o caminho para a ditadura militar, governo monárquico e envolvimento nas guerras de interesse dos príncipes e reis. Mas antes que isto acontecesse Guilherme II morreu vítima de varíola ao fim do mesmo ano.

A assembléia dos Estados Gerais pode então retomar inteiramente o governo das províncias unidas e concedeu anistia aos que haviam apoiado o príncipe. O herdeiro de Orange continuaram apenas representantes nos Estados Gerais de seus principados, as províncias de Friesland e Froningen. A esse tempo, em 1651, os parlamentaristas ingleses, no governo de Cromwell, passam uma lei proibindo a intermediação dos holandeses (já não é problema interno, nem de religião, nem de guerra com a Espanha) em negócios ingleses na Europa e no ultramar. Um incidente entre navios ingleses e holandeses em 1652 foi o estopim começando uma guerra total entre os dois países.

Em 1653 Johan de Witt foi indicado para os Estados Gerais pela província de Holanda, o qual passou a liderar.

Os holandeses, em inferioridade marítima, aceitaram a paz em 1654, desfavorável para os holandeses que tiveram inclusive que prometer aos parlamentaristas, ingleses alijar para sempre o príncipe de Orange do comando supremo dos Estados Gerais. Essa paz foi feita pelo tratado de Westminster, por insistência de Johan de Witt, o líder da política da república em assuntos internos e internos. De Witt reconstruiu a armada holandesa, melhorou o sistema financeiro tanto dos Estados Gerais quanto da província holandesa em particular e reacendeu o prestígio da república na Europa.

O conflito comercial com a Inglaterra continuava, que exigia agora um imposto de pesca no mar do norte e a irritação dos holandeses levou a uma nova guerra em 1664. Para nova paz, o monarca inglês Carlos II que restaurou a monarquia após a república de Cromwell, demandou dos holandeses exatamente o oposto antes exigido antes pelos parlamentaristas. Como condição para a paz exigia que Guilherme III, seu sobrinho fosse aceito chefe dos Estados Gerais retomando a posição de comando que tiveram seus antepassados. Mas Johan de Witt conseguiu contornar o perigo conseguindo o apoio dos franceses que não queriam uma Holanda governada por Guilherme III unida a sua arqui-inimiga Inglaterra. Também a marinha holandesa estava renovada por De Witt levava a melhor. Em 1667 ousada invasão do rio Tâmisa por uma esquadra holandesa que destruiu no porto a esquadra inglesa e os estaleiros ingleses.

Em 1666 Luís XIV ao mesmo tempo que apoiava frouxamente os holandeses, iniciou a invasão das províncias espanholas (atual Bélgica), o que era uma ameaça para os holandeses, e também para os ingleses. Isto levou a Inglaterra a fazer a paz com a Holanda no mesmo ano de 1667, e forçaram Luiz XIV a assinar a paz de Aix-a-Chapelle e devolver as províncias do sul à Espanha. Irritado, Luis XIV propôs à Inglaterra a aniquilação da Holanda. Considerando que a Holanda traíra o acordo de amizade, Luiz XIV buscou seduzir Carlos II a romper a paz com os Estados Gerais prometendo-lhe, inclusive, a restauração de Guilherme III. Para preservar a paz os orangistas tentaram restaurar a posição de Guilherme III à frente dos Estados Gerais porem não conseguiram impor sua vontade devido à oposição de Johan de Witt que temia que a República acabasse em monarquia absolutista. O príncipe foi apenas nomeado comandante em Chefe das forças armadas em 1672. Carlos II então juntou-se aos franceses contra a Holanda na primavera de 1672. O exército francês prontamente avançou até o coração da Holanda.

A política de De Witt, cuja consequência fora a invasão da Holanda, provocou arruaças em Haia o que levou à nomeação de Guilherme III chefe dos Estados Gerais como pretendiam os Ingleses e De Witt foi linchado pelo povo. Porém Guilherme III, sem fazer caso das simpatia dos ingleses, fez a guerra mudar de feição com sucessivas vitórias sobre os franceses em terra e sobre os ingleses no mar. Após 6 anos de guerra Guilherme III conseguiu, com o apoio da antes arqui-inimiga Espanha, forçar a retirada dos ingleses (1674) e dos franceses. Guilherme não pretendeu a monarquia absoluta como se temia. Não se interessou por reformas constitucionais e inclusive, mais tarde, em 1688, quando o parlamento inglês o chamou para salvar a Inglaterra do rei católico James II, seu sogro, avançando até Londres praticamente sem resistência. obteve do colegiado apoio para uma incursão à Inglaterra para depor Jaime II, rei católico protegido de Luis XIV e que pretendia o absolutismo. Porque era casado com sua prima Maria, filha de Jaime II, e pela sua própria linhagem de sobrinho de Jaime II, (sua mãe era filha de Carlos I, irmã de Carlos II e Jaime II) e por infundir confiança aos parlamentaristas, foi convocado para assumir o trono inglês pelo próprio Parlamento, quando a “Revolução Gloriosa” de que participou logrou depor seu tio e sogro Jaime II e este fugiu para Paris aquele ano.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 00-00-1997.

Para citar este texto: Cobra, Rubem Queiroz – NOTAS: Vultos e episódios da Época Moderna. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 1997.