O Indeterminismo da Mente Prova a Existência do Espírito

Hoje: 25-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Acreditar em algo que transcende ao puramente material e que constrói com o corpo a condição humana não é, absolutamente, uma fé inteiramente gratuita. Ela tem por base uma experiência muito real, que é a experiência de consciência: enquanto ela se dá ela é pontual, não mensurável, sem causa, e inalterável em si mesma, e por isso deve corresponder a algo imaterial na mente do homem. No entanto, essa experiência depende, quanto a seus objetos, de toda uma tessitura material biológica no cérebro, indispensável para que ela aconteça como pensamentos, sensações e sentimentos. Então a experiência de consciência, inatingível na sua essência, pode ser estudada quanto aos aspectos materiais capazes de particularizá-la naquelas modalidades citadas.

Mas a própria ciência nos apresenta importantes pistas para que creiamos na dualidade corpo-espírito. O famoso cientista Jean Piaget, Doutor honoris causa pela universidade de Harvard em 1936, descobriu que o pensamento lógico tem uma base biológica. Essa base deve então ser algo que o homem herdou e com certeza está presente em todos os animais, apesar de que em graus variáveis de complexidade. O médico alemão, Konrad Lorenz, prêmio Nobel em 1973, fez prolongados estudos comparativos entre a inteligência humana e a inteligência animal, e mostrou os resultados no seu livro “Por trás do espelho, uma pesquisa por uma história natural do conhecimento humano, 1973”. Piaget juntou seus brilhantes estudos sobre a mente humana aos resultados de Lorenz para proclamar sua inovadora “psicobiologia” ou “epstemologia genética”.  Ela será responsável pela coerência e previsibilidade do comportamento animal em relação aos objetos que satisfazem seus instintos e conduziria o comportamento humano com igual coerência e previsibilidade. Porém, no homem, ao contrário, observa-se a incoerência e a imprevisibilidade, o que indica que algo, fora desse sistema lógico biológico comum aos mamíferos, interfere no processo.

Os animais são seres lógicos, como as máquinas, e o homem não é. Algo o faz diferente de uma máquina e do animal. Não há outra explicação senão esta, que no homem encontra-se algo transcendente à lógica natural do instinto, transcendente à matéria, e esse algo deve ser o espírito. As interferências que perturbam o sistema lógico, psicobiológico, excluídas as interferências físico-químicas, podem ter apenas uma única procedência: elas veem da participação do espírito. Porque não são capazes dessa desorganização de que o homem é capaz, os animais certamente não têm espírito.

Querem, porém, alguns eminentes cientistas, que exista uma relação de causa e efeito exclusivamente no campo físico, um mecanismo lógico que se poderia chamar um “Eu ortobiótico”, teoricamente capaz, de sobreviver como uma máquina inteligente.

É bastante útil o balanço, rápido e simples, feito por Judith Hooper e Dick Teresi em The 3-Pound Universe, 1987, dos vários aspectos em que a ciência confronta a filosofia, neste campo.

A confusão em que andam com respeito ao assunto transparece nos títulos de suas obras: “Neurophilosophy” (Churchland, 1989), “Descartes’ Error” (Damasio, 2006), “The Asthonishing Hypotesis” (Crick, 1995), e outros. A experiência de consciência não passaria, em suas opiniões, de um fenômeno de natureza físico-química, ou de alguma outra natureza dentro das leis da matéria, que a ciência haverá, um dia, de descobrir. A atividade mental de uma pessoa seria devida inteiramente ao comportamento de células nervosas, células gliais, e aos átomos, íons e moléculas que as constituem, e as influenciam. Crick, 1995, no entanto, admite que poderá haver uma alma, que seja provada pela ciência uma hipótese que ele considerava surpreendente, e coloca um subtítulo ao seu livro “The Cientific Search for the Soul” (a busca científica da alma), ou seja uma alma construída materialmente e não um espírito. O celebrado neurocirurgião canadense Wilder Penfield, que foi o primeiro a mapear as funções do cérebro teve uma aproximação do problema da alma diferente: ele buscou, sem êxito, encontrar no cérebro o local em que estaria situada a consciência. (The Mystery of the Mind: A Critical Study of Consciousness and the Human Brain, em 1975).

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 08-12-2022.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – O indeterminismo da mente prova a existência do espírito. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2022.