Santo Agostinho

Hoje: 13-10-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Santo Agostinho, antes de sua conversão ao cristianismo, era um professor de retórica e gramática, africano de origem bérbere, que vivia em Milão com sua mulher e seu filho. Sua vida até então fora de acordo com os costumes romanos, pois nasceu no ano de 354 na cidade de Tagaste, hoje Souk-Ahras, na província romana da Numídia, no norte da África (atual Argélia). Enquanto criança e adolescente viveu o conflito religioso existente no seio de sua família porque o pai, Patrício, mantinha-se na religião oficial romana, e era um dos curiales da cidade – representantes do povo com assento na Cúria ou Conselho de governo da província –, e sua mãe, Mônica, considerada depois um exemplo de mãe cristã, rezava e exortava pai e filho à conversão. A mãe obteve a satisfação desses dois desejos ainda em vida, e veio a ser depois venerada como Santa Mônica pelos católicos.

 Exposto a esse dilema, a primeira solução tentada por Agostinho foi a crença maniqueísta, que supõe duas entidades, a do bem e a do mal, dividindo os homens igualmente entre predestinados ao bem e predestinados ao mal.

 Depois dessa breve fase em que aderiu à filosofia dualista do maniqueísmo, ele mergulhou na filosofia neoplatônica de Plotino, o filósofo egípcio radicado em Roma que tentou, c. 265, criar uma república nos moldes da República de Platão na região de Campânia, a nordeste de Nápoles, mas teve seu projeto proibido pelo imperador romano Gallienus.

 Mais tarde, inserido na elite intelectual em Milão, além das palavras e exemplos da mãe, Agostinho teve a força da argumentação do grande bispo Santo Ambrósio – além de suas próprias profundas reflexões – a impulsioná-lo para a conversão ao Cristianismo.

 De volta à África, depois de convertido, Santo Agostinho foi bispo de Hipo, que é a atual Bona, ou Bone, na Argélia, norte da África, a poucas léguas de sua cidade natal, conhecida, em seu tempo, por Hippo-Regius, porque foi residência dos reis da Numídial (*).

PENSAMENTO

 Agostinho foi um inquiridor incansável, porém é tido por um filósofo pouco sistemático. Toda a sua vida pode se dizer que dedicou a uma luta intelectual e moral com o problema do mal, tema que orientou sua filosofia, talvez enraizado na dicotomia de pólos antagônicos de seu lar

 Agostinho acreditava que todos os seres eram bons, porque eles tendiam a voltar para seu Criador. Deus era o Ser Supremo ao qual todos os outros seres, estavam subordinados. Os seres humanos, no entanto, possuíam o livre arbítrio, e só poderão tender para Deus por escolha, por um ato da própria vontade. A recusa do homem em voltar-se para Deus é, segundo seu pensamento, o mal. Assim, apesar de toda a criação ser boa, o mal vem ao mundo através da rejeição do homem ao bem, ao verdadeiro e ao belo, isto é, a Deus.

 Os escritos de Santo Agostinho estabeleceram as bases teológicas do cristianismo no Ocidente. Em sua filosofia procura sintetizar as idéias de Platão com o cristianismo. Em sua pedagogia ele é fiel aos ensinamentos da Bíblia, mas introduz a tolerância e a liberalidade que o clima intelectual e político de sua época exigia para que fosse ouvido.

 Filosofia da Educação de Santo Agostinho:

 Em capítulos de alguns de seus livros Santo Agostinho aborda temas filosóficos da educação e também recomenda um método pedagógico que acredita o mais eficaz para o ensino dos jovens.

 No Sobre o mestre (De Magistro) e no seu Sobre a Doutrina Cristã (De doctrina christiana) encontramos o objetivo último que Santo Agostinho dá para a educação: voltar-se o Homem para Deus. Mas como os seres humanos são um mistério para si mesmos, Deus é entendido como inteiramente misterioso. Assim, a busca incessante de Deus é sempre uma busca de um objetivo inatingível pelo buscador. Ele considerava o ensino como mera preparação para a compreensão, e esta seria uma iluminação do “professor íntimo”, que é Cristo. Ensinar, diz ele, é o maior de todos os atos de caridade (**).

 Método pedagógico:

 Agostinho tinha farta experiência de ensino. Havia sido professo em Milão e Roma por vários anos e dedicado anos a especular sobre a origem do conhecimento e como atingir o verdadeiro saber. O método de Agostinho não é o socrático, que usa o diálogo como alguém que não sabe nada, e que procura descobrir a verdade caminhando junto com o aluno nesse sentido. Ao contrário, ele acreditava mais em transmitir o conhecimento para os alunos como aquele que sabe a verdade para os que não sabem nada. Assim, ele estabeleceu uma metodologia cristã, que influenciou estudiosos e educadores ao longo da história do Ocidente.

 Ser professor nesse contexto era um ato de amor. Este amor era necessário, pois sabia das dificuldades de estudo, e a resistência ativa dos jovens para a aprendizagem. Ele também considerou o idioma um obstáculo para a aprendizagem, uma vez que a mente se move mais rápido do que as palavras que o professor pronuncia, e as palavras, por sua vez, não expressam adequadamente o que o professor pretende.

 O professor, ao ensinar estudantes que têm alguma cultura, precisa começar por questioná-los sobre o que já sabem, a fim de não repetir o que já conhecem e sim levá-los com rapidez às matérias que ainda não tenham dominado. Ao ensinar o aluno superficialmente educado, o professor precisava insistir na diferença entre terem de memória as palavras e ter efetiva compreensão. Com relação ao aluno sem educação, Agostinho incentivou o professor a ser simples, clara, direta e paciente. Este tipo de ensinamento muita repetição necessária, e pode induzir o tédio no professor, mas Agostinho pensei que este tédio seria superado por uma simpatia com o aluno. Este tipo de simpatia induz alegria no professor e alegria no aluno.

 De um modo geral o ensino deve ser feito no que Agostinho chamou o “método moderado”. Esse estilo de ensino exige que o professor não sobrecarregue o aluno com muito material, mas aborde um tema de cada vez, para revelar ao aluno o que está escondido nele, para resolver dificuldades, e antecipar outras questões que possam surgir. Considera importante até mesmo o modo de falar do professor, que deve ter em ritmo equilibrado, usando frases bem elaboradas em equilíbrio com frases simples, com o propósito de encantar os alunos e atraí-los para a beleza do material.

 Agostinho influenciou diretamente o estadista e escritor romano Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus (c. 490-c. 583), que propôs o aprendizado progressivo a partir da leitura e interpretação dos salmos, conjuntamente com o ensino profano das artes liberais, buscando, como Santo Agostinho, criar no estudante uma mentalidade aberta e inteligente, e somente após, quando o aluno tivesse o intelecto treinado para um melhor entendimento, o ensino das matérias mais complexas.

 O intelectual e mestre anglo-saxão Alcuin (735-804), um eminente educador, sábio e teólogo. no utilizou, no século VIII, as obras de Agostinho sobre o ensino cristão como livros didáticos. Também o humanismo cristão de Erasmo, erudito holandês do século XVI pode ser entendido como uma extensão da obra de Agostinho.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 07-07-2011.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Filosofia da Educação: Santo Agostinho. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.