Hoje: 04-12-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
La Salpêtrière é hoje uma dependência do Hospital Geral de Paris. Sua entrada principal está no Boulevard de L’Hôpital, adjacente à Gare d’Austerlitz, e entradas secundárias no Boulevard Vincent Auriol e Rue Bruant. Veteranos sem lar eram albergados no Hôtel des Invalides (1670) e toda categoria de mendigos no Hôpital Général (1657), o qual era constituído de três unidades: Bicêtre para os homens, La Pitié para jovens, e La Salpêtrière para mulheres.
O nome desse hospital vem do fato de ter sido construído no local de uma antiga fábrica de pólvora, cujo componente principal é o salitre, em francês, salpêtre. Situado oposto ao Arsenal do Rei, na outra margem do Sena, o hospital foi primitivamente um albergue e orfanato, criado por édito real de 1656, para os mendigos da cidade, com o fim de por termo à mendicância e vagabundagem, origem de todas as desordens e crimes que ocorriam em Paris e seus arredores. Este refúgio abrigava 1 460 pessoas em 1661; recebia inclusive filhas de nobres pobres e arruinados, as quais gozavam de tratamento especial. A todos era dado um sólido ensinamento religioso, além da alfabetização, e artes habilitadoras. As mais pobres dentre as mais de 800 das Filles du roi (“filhas do rei”), moças voluntárias que foram enviadas para as colônias para constituírem famílias com os colonos francesas entre 1663 e 1673, foram albergadas e treinadas em prendas domésticas na Salpêtrière, antes de serem embarcadas para seu destino.
Em pouco tempo, porém, a Instituição degenerou em um repugnante depósito de loucos e malfeitores. Em 1680, um édito real determinou que La Salpêtrière, que já abrigava em suas imensas instalações os mendigos, epilépticos, paralíticos e aleijados, e vítimas de doenças mentais ainda tidas como manifestações demoníacas, fosse também uma prisão para as prostitutas presas nas ruas da cidade. Gemidos e impropérios gritados todo o tempo, e a grande infestação de ratos, não permitiam o descanso de ninguém. Seu primeiro capelão foi São Vicente de Paula, dedicado inteiramente a aliviar o sofrimento dos internos mais miseráveis.
Um dos mais hediondos episódios da Revolução francesa ocorreram ali, le massacre de La Salpêtrière, na noite de 3 para 4 de setembro de 1792. Um bando de bêbados decidiu libertar as prostitutas lá recolhidas e, apesar de libertarem um certo número delas, as demais mulheres, doentes mentais, alcoólatras e portadoras de deformações físicas, foram arrastadas para a rua e massacradas à vista do povo.
As loucas mais agitadas ficavam acorrentadas até morrer. Somente no início do século XIX a situação da seção de alienados mudou, por obra do psiquiatra Philippe Pinel, que determinou a remoção das correntes e a humanização do tratamento das doentes.. Na segunda metade do século XIX, quando o Jean-Martin Charcot assumiu a responsabilidade por essa seção, La Salpêtrière tornou-se um centro de estudos psiquiátricos mundialmente famoso, que recebia estudantes de todo o mundo para assistir experimentos e aulas sobre doenças mentais. Entre estes lá estagiou Sigmund Freud, poucos anos após diplomar-se em medicina.
Um dos pacientes ilustres desse hospital foi a Princesa Diana, da Inglaterra, que lá faleceu, quando era socorrida, após o acidente que sofreu em 31 de Agosto de 1997.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 20-04-2003.
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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – NOTAS: Vultos e episódios da Época Contemporânea. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.