Konrad Lorenz

Hoje: 04-12-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

 Zoólogo austríaco, Konrad Lorenz. foi o fundador da moderna Etologia, o estudo comparativo do comportamento humano e animal., uma nova área de estudos científicos com profundas implicações para a humanidade. Pelas suas descobertas recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia em 1973.

 Lorenz nasceu em Viena, a 7 de novembro de 1903, e faleceu a 27 de fevereiro de 1989 em Altenburg, Áustria; filho de um cirurgião ortopédico, mostrou desde cedo grande interesse em animais. Tinha um mini-zoológico em casa, com várias espécies de peixe, aves, macacos, cães, gatos e coelhos, muitos dos quais ele capturava em suas excursões pelo campo. Ainda muito jovem, ocupava-se de nutrir e tratar os animais doentes no zoológico de Schonbrunner, nas proximidades de sua casa. Também anotava metódica e detalhadamente em um diário o comportamento de suas aves. A observação dos hábitos dos animais e a comparação do instinto de agressão animal com o comportamento humano foi uma grande preocupação dos cientistas e um momentoso tema dos pensadores no período entre as duas grandes guerras, em busca de explicações para a agressividade humana.

 Ao terminar a escola secundária em 1922, seguindo o desejo do pai, estudou medicina por dois semestres na Universidade de Columbia, em New York, retornando a Viena para continuar seus estudos. Diplomou-se em medicina em Viena em 1928 e obteve o grau de doutor em Zoologia, em 1933.

 O desenvolvimento de suas pesquisas acompanhou sua rápida carreira acadêmica. Trabalhou pela fundação da Sociedade alemã de psicologia animal fundada em 1936. No ano seguinte tornou-se co-editor chefe do periódico Zeitschrift für Tierpsychologie, que se tornou líder na difusão de estudos etológicos. Também em 1937, ele foi nomeado professor de anatomia comparada e psicologia animal da universidade de Viena. De 1940 a 1942 foi professor e chefe do departamento de psicologia geral da Universidade Albert, em Königsberg.

 Lorenz sugeriu que as espécies animais estão geneticamente construídas para aprenderem tipos específicos de informação que são importantes para a sobrevivência da espécie. Descreveu o aprendizado de patos e gansos recém-nascidos. Os filhotes, logo que nasciam, aprendiam a seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe. O processo, que é chamado imprinting (gravação) compreende sinais visuais e auditivos do objeto “mãe” que são gravados, mesmo que sejam enganosos. Isto provoca uma resposta de acompanhamento que depois vai afetar o adulto.

 De 1942 a 1944 Lorenz serviu o exército alemão como médico e foi capturado e feito prisioneiro na Rússia. Foi libertado e retornou à Áustria em 1948 e então chefiou o Instituto de Etologia Comparada, de 1949 a 1951, em Altenberg, ao mesmo tempo que, em 1950, ele estabeleceu um departamento de etologia comparada no Instituo Max Planck, de Buldern, na Westphalia, do qual foi diretor em 1954. De 1961 a 1973 foi diretor do Instituto Max Planck para Fisiologia do Comportamento, em Seewiesen. Neste último ano tornou-se diretor do Departamento de Sociologia Animal do Instituto de Etologia Comparada da Academia de Ciências da Áustria em Altenberg.

 Lorenz logo enveredou para um estudo comparativo entre o comportamento humano e o comportamento animal, expondo sua tese principalmente nos livros Das sogenannte Böse, de 1963 (tit. em port. “Sobre a agressão”) e Die Rückseite des Spiegels: Versuch einer Naturgeschichte menschlichen Erkennens, (“Por trás do espelho: uma pesquisa por uma história natural do conhecimento humano”), de 1973.

 No primeiro ressalta que nos animais em geral a agressividade tem um papel positivo para sobrevivência da espécie, como o afastamento de competidores e a manutenção do território, e que também no homem a agressividade poderia ser orientada para comportamentos socialmente úteis.

 No segundo, Die Rückseite des Spiegels, Lorenz especula sobre a natureza do pensamento e da inteligência humana e seu poder de sobrepujar as limitações reveladas por seus estudos, e argumenta que a luta e a guerra no homem tem uma base inata, mas que pode ser mudada..

 Em 1973 Lorenz recebeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, dividido com outros dois estudiosos do comportamento animal, Karl von Frisch e Nikolaas Tinbergen. Seu trabalho sobre as raízes da agressividade alcançou grande repercussão devido à possibilidade de aplicação ao conhecimento da violência urbana e, em maior escala, à prevenção das guerra. Jean Piaget tomou-o, juntamente com os resultados de sua própria pesquisa, como base para sua inovadora psicobiologia. Recebeu também diplomas honorários das Universidades de Yale, Loyola. Leeds, Basel, e Oxford, além de vários outros prêmios e honrarias.

 Teoria

Lorenz descobriu que muitos dos mais importantes padrões de comportamento dos animais, aqueles tradicionalmente chamados instintivos, eram inatos e não podiam ser explicados behavioristicamente. Eram comportamentos fixos, que não podiam ser alterados ou eliminados pelo meio, por mais que se manipulasse experimentalmente esse meio.

 Comportamentos instintivos acontecem espontaneamente, como que provocados por causas internas ao próprio animal. São comportamentos de busca, que não precisam sempre de um estímulo externo para se manifestarem. Tomou como exemplo uma observação de um outro etologista, Wallace Craig, que havia descrito como um pombo macho afastado da fêmea corteja um pombo empalhado, um pedaço de pano e até mesmo o canto vazio da sua gaiola. Para Lorenz, o comportamento do homem é fundamentalmente semelhante aos dos outros animais e está sujeito as mesmas leis causais da natureza. Segundo ele, o critério para determinar que um certo padrão de comportamento é inato, é que ele seja mostrando por todos os indivíduos normais da espécie, de determinada idade e sexo, sem nenhum aprendizado anterior e sem tentativas e erros. E este é o caso do comportamento agressivo, entre outros.

 O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana é que, assim como muitos outros animais, o homem tem o impulso inato do comportamento agressivo em relação a sua própria espécie. Esse impulso estaria limitado a poucos danos, como acontece entre animais da mesma espécie, não fosse, no caso do homem, dois problemas:

 O primeiro é este dispor de armas que multiplicam seu poder ofensivo. O desenvolvimento cultural e tecnológico coloca armas artificiais em suas mãos, de modo que o equilíbrio natural entre o potencial mortífero e a inibição é perturbado.

 A segunda causa é que falta, na espécie humana, como em outros animais normalmente menos agressivos, o respeito ao gesto de submissão feito pelo perdedor. O homem, por essas razões, é o único animal que mata dentro de sua própria espécie

Para ele, no entanto, explicar nosso comportamento por causas naturais não exclui ou afeta necessariamente a nossa “dignidade” ou nossa escala de valores, – que os behavioristas consideram falsos -, nem mostra tampouco que não somos livres (Skinner aconselhava que esquecêssemos valores como liberdade, natureza humana, etc.). Ao contrário, para Lorenz o nosso crescente conhecimento de nós mesmos aumenta o nosso poder de autocontrole e assenta em bases sólidas nossa vontade. Quanto mais compreendermos as causas materiais de nossa agressão, mais aptos estaremos para tomar medidas racionais para controlá-la. “O auto-conhecimento é o primeiro passo para a salvação”, disse.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 21-04-2003.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Konrad Lorenz, o teórico da agressividade e fundador da Etologia. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.