Jacy Camarão de Figueiredo

Hoje: 13-10-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

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 Formada em Pedagogia pela FAFI, Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais – UMG, atual UFMG, onde também veio a lecionar, Jacy Camarão de Figueiredo era filha de Carlos Alberto Marinho da Cruz Camarão e Dídima de Oliveira Camarão, e natural de Araxá, Minas Gerais.

 Seu avô, João José da Cruz Camarão, morava no Rio de Janeiro, era engenheiro e, tendo a esposa falecido ao dar à luz ao filho Carlos Alberto, este foi então criado pela tia, que morava em Formiga, Minas Gerais, e veio a ser o pai de Jacy. O avô, João José da Cruz Camarão, participou da construção das ferrovias Belém-Bragança e Madeira-Mamoré, por volta de 1883/4, quando contraiu malária, vindo mais tarde a falecer desta moléstia.

 Carlos Alberto, quando adolescente chegou a estudar no Colégio Militar D. Pedro II, no Rio de Janeiro, para satisfazer a vontade paterna, porém desistiu da carreira militar e voltou para a casa da tia, em Formiga. Casou com Dídima de Oliveira, e tornou-se funcionário do Banco Comércio e Indústria de MG em Formiga. Transferido temporariamente pelo Banco para Araxá, lá nasceu Jacy, sua segunda filha, em 28 de fevereiro de 1930. Menos de um ano depois do nascimento da filha, a família retornou a Formiga. Jacy era a segunda de quatro irmãos: Maria Leonor, Jacy, Afrânio e Carlos. Exceto ela, todos os demais nasceram em Formiga.

O pai era um homem culto, dado à leitura em todos os assuntos. Foi mais tarde gerente do banco em que trabalhava, e envolveu-se com a política local, sendo nomeado prefeito do município por volta de 1940. A família morava em uma pequena chácara próxima da cidade e Jacy estudava no Grupo Escolar Municipal Rodolfo de Almeida, para onde ia do sítio todos os dias, de bicicleta, levando na garupa o irmão mais novo.

 Depois de concluir o grupo escolar Jacy começou o curso ginasial no Ginásio Antonio Vieira, em Formiga. Porém a família teve que mudar-se novamente para Araxá, em 1945, quando Jacy contava 15 anos. Lá Jacy concluiu o curso ginasial, no Colégio São Domingos.

Jacy Camarão formou-se normalista em Araxá, aos 16 anos. Aos 17 começou a lecionar como professora primária nas Escolas Reunidas Marquês de Paraná, também em Araxá. Essa escola era frequentada principalmente por alunos da periferia e da zona rural da cidade.

 Afirma sua filha Lucília Camarão de Figueiredo, professora da Universidade Federal de Ouro Preto, – e quem generosamente nos forneceu grande parte das informações que compõem esta biografia –, que os personagens Sebastiãozinho e Expedita, que aparecem em alguns textos do livro “A Construção do Universo”, de autoria de Jacy Figueiredo eram reais. As impressões e questões sobre o mundo colocadas por esses personagens neste livro foram em parte inspiradas em impressões e questões de seus alunos dessa época. Seu lazer era principalmente ir nadar quase todos os dias na piscina do Grande Hotel e Termas de Araxá, inaugurado em 1944. Desde então, a natação foi seu esporte preferido.

 Em 1950 Jacy veio para Belo Horizonte pela primeira vez, para fazer o curso de Administração Escolar, no Instituto de Educação de Minas Gerais. Nesse período, morou primeiramente em um pensionato de freiras e depois em uma república de estudantes, onde fez amizades que a acompanharam durante toda a vida. Retornou para Araxá ao concluir o curso, dois anos depois.

 Voltou para Belo Horizonte em 1953, desta vez para cursar Pedagogia na Faculdade de Educação da UFMG. Nesse curso teve a influência de grandes mestres, como Morse de Belém Teixeira, que viria a ser mais tarde seu orientador no Doutorado, Pedro Parafita de Bessa, que dirigia a Faculdade na época do golpe militar e foi cassado pouco depois, e Helena Antipoff.

 Jacy Camarão tinha enorme admiração pelo trabalho da Dra. Helena Antipoff e, a convite desta, trabalhou durante o ano de 1956, como professora do curso de formação de professores para a escola rural, no Instituto Superior de Educação Rural, localizado na Fazenda do Rosário, em Ibirité, próximo a Belo Horizonte. Obteve então a nomeação para o Instituto de Educação do Estado de Minas Gerais, e foi colocada à disposição da Rádio Inconfidência, conseguindo assim trabalhar para manter-se, e ao mesmo tempo dedicar-se ao curso de Pedagogia. Lomelino Andrade Couto (*), refere-se a ela, – que trabalhou com ele na Rádio Inconfidência –, como moça de família tradicional, que lia muito, e grande conhecedora de Fernando Pessoa. Deixou a Rádio em 1954 ou 1955, voltando a lecionar no “curso normal” do Instituto de Educação de Minas Geras. O livro de Filosofia da Educação, que publicaria mais tarde, em 1970, constitui uma compilação do material didático por ela elaborado para a disciplina de Filosofia da Educação, que ministrou durante alguns anos no Instituto de Educação e também na Faculdade de Educação da U.F.M.G.

 Ainda solteira, Jacy Camarão está arrolada entre os participantes do primeiro Congresso de Sociologia realizado no Brasil, na semana de 21 a 27 de junho de 1954, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia, sob o patrocínio da Comissão do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, como parte de seu ciclo de comemorações. (**)

 Jacy Camarão casou no início de 1957 com Ruy Togeiro de Figueiredo, engenheiro, formado pela Escola de Engenharia da UFMG, onde mais tarde tornou-se também professor. Assim como Jacy, ele veio para Belo Horizonte para estudar, tendo nascido em Cruzeiro, São Paulo. A filha mais velha do casal, Lucilia, nasceu nesse mesmo ano. Os outros filhos nasceram logo em seguida: Carlos (1958), Ruy Júnior (1960) e Sônia (1962). Lucília Camarão de Figueiredo formou-se em Física em 1979 na UFMG, e o filho Carlos Camarão de Figueiredo em Engenharia Mecânica em 1981, também na UFMG.Ruy Junior formou-se em Matemática pela UFMG, em 1981 e Sônia formou-se em Letras, em 1985.

 Em 1963, Jacy Camarão de Figueiredo passou a lecionar interinamente na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, acumulando essa função com o magistério no Instituto de Educação. Em 1969 defendeu sua tese de Doutoramento, na UFMG, e foi efetivada como Professora Assistente da cadeira de Sociologia da Educação, na mesma universidade. Nesse ano sua mãe, dona de casa como a maioria das mulheres de sua época, veio a falecer, após prolongada doença mental não diagnosticada, em Belo Horizonte, para onde a família havia se mudado, em 1960, na tentativa de lhe proporcionar melhor assistência médica. Seu pai faleceu na mesma cidade em 1972.

 Pela Editora mineira Bernardo Álvares, Jacy Figueiredo publicou, em 1970, em dois formatos – um texto especial para o professor –, o livro Filosofia e educação: através de textos: para os colégios normais e faculdades. O titulo da capa é “Filosofia da educação”. Retrabalhou o tema e reuniu os dois volumes anteriores em uma nova publicação, pela Editora Júpiter, também de Belo Horizonte, com o título Fundamentos históricos e filosóficos da educação, de 1973, que reputo o seu melhor trabalho, e do qual se fez uma segunda edição em 1976.

 Em 1972, deixou o Instituto assumindo suas atividades na Faculdade de Educação em tempo integral. É dessa época, por volta de 1973, o trabalho “Reformulação do programa de treinamento do PREMEN”.

 Após a anistia política de agosto de 1979 publica a série Estudos Sociais para as primeiras 4 séries do ensino fundamental. Antes de serem publicados, os livros foram aplicados experimentalmente, durante uns 5 anos, em um projeto piloto desenvolvido no Centro Pedagógico da UFMG, período durante o qual foram sendo aprimorados.

 Como autora-editora, publicou em 1980 A Construção do Grupo – Estudos Sociais para a Primeira Serie, através da “Edições Girassol”, editora criada por ela com o propósito de publicar essa obra. Utilizou o trabalho da Imprensa Universitária da UFMG, pago com recursos próprios. Em comunicação via correio eletrônico, a Professora Lucília Camarão de Figueiredo, acima citada, conta que, quando o livro ficou conhecido, a Autora recebeu de uma única vez um pedido de 80.000 exemplares. Teve que contratar mais de uma gráfica para imprimir os exemplares, e precisou da ajuda de toda a família para embalar e despachar os volumes.

 O nome “Girassol” escolhido para suas Edições suscita curiosidade, devido a algumas coincidências significativas. O nome seria, talvez, homenagem ao escritor mineiro Murilo Eugênio Rubião, que chegou a cortejá-la, e ela foi, se não o único, então um dos raros casos de paixão na vida desse talentoso contista. Indícios para isto não faltam:

 Lomelino Couto, amigo e colaborador de Rubião, e que, como Jacy Camarão, trabalhava no seu Gabinete na Rádio Inconfidência, diz no Site já referido (*) : “Se alguém falar que conheceu o Murilo num momento de amor, eu te digo que talvez isso não seja muito verdade. O máximo que eu vi foi o Murilo segurando a mão de uma moça chamada Jaci (sic) Camarão, que trabalhava comigo na rádio”. Ela, porém, o recusou.

 Murilo Rubião havia publicado em 1978, pouco antes de Jacy Figueiredo editar seus livros –, um volume de contos sob o título “A Casa do Girassol Vermelho”.

 No jardim por trás do apartamento térreo em que morava no bairro de Santo Antônio – segundo se lembra a filha Lucília –, Jacy Figueiredo plantou um pé de girassol! – talvez um símbolo secreto de seu afeto pelo amigo que havia recusado, e que desejou tornar perene no nome de sua Editora.

 Em 1981, publica “A construção do Grupo”, tese apresentada no mesmo ano no concurso público de provas e títulos para professora titular do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação, da Faculdade de Educação da UFMG. Em 1981 publica também Sociologia Educacional, sobre Ensino de Primeiro Grau (Ministério da Educação, Brasília) e Quem é o pedagogo brasileiro? na revista da Fundação AMAE para Educação e Cultura, de Belo Horizonte ( 14(131-132):2-10, fev./mar. 1981).

 Por ocasião do Seminário Regional do Projeto Nacional para Integração da Universidades com o Ensino do 1º Grau, realizado de 18 de outubro a 10 de novembro de 1982 na Faculdade de Educação da UFMG em Belo Horizonte, coordenado pela Professora Maria Antonieta Bianchi, Jacy Figueiredo relatou seu trabalho experimental de ensino das Ciências Sociais na escola primária, desenvolvido de 1972 até aquela data.

 É de 1984 outro trabalho na área da Filosofia, sobre o tema da sua tese, em dois formatos, um para o professor e outro para o aluno, com o título A construção do espaço humano, publicado em 1984 pela Imprensa Oficial do Estado, em Belo Horizonte.

 Jacy Figueiredo contraiu diabetes ainda jovem e, em decorrência disso, teve algumas complicações de saúde quando atingiu a maturidade. Aposentou-se da Universidade em 1991. Apesar de aposentada, continuou a trabalhar em uma nova versão dos seus livros de Estudos Sociais, que não chegou a concluir, vindo a falecer em 23/10/2010.

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 29-06-2011.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Jacy Camarão de Figueiredo. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2011.