Aristóteles

Hoje: 24-04-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
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VIDA – Aristóteles nasceu no ano 384 a. C em Estagira, cidade próxima ao golfo Strimônico, na Calcídia, uma península sobre o mar Egeu que era então parte da Macedônia. Seu pai, Nicómaco, serviu como médico na corte de Amintas II, o soberano macedónio.

Aos dezoito anos entrou para a Academia fundada por Platão em Atenas. La ficou por dezenove anos, chegou a mestre e foi amigo de Platão. A amizade e a admiração recíproca não impediram o radical desacordo entre as doutrinas filosóficas de ambos. Ocorrendo a morte de Platão, é Espeusipo quem se encarrega da direção da Academia. Aristóteles parte para a Misia, onde permaneceu três anos, e se casou. Mais tarde, quando lhe faleceu a esposa, teve uma outra mulher, mãe do seu filho ao qual deu o nome de seu pai: Nicómaco. Esteve, também, em Mitilene, na ilha de Lésbos.

Por volta do ano 343 está novamente na corte macedônica, a convite do rei Filipe, para encarregar-se da educação de seu filho Alexandre, então com treze anos de idade. Embora com certeza o príncipe tenha se beneficiado grandemente da cultura de seu mestre, ergueram-se algumas divergências entre eles quando mais tarde, ao estender as fronteiras do reino, Alexandre estimulou casamentos inter-raciais de seus soldados com as mulheres asiáticas, o que representava uma fusão de culturas com a qual Aristóteles não concordou.

No ano 334 Aristóteles retornou a Atenas e fundou a sua própria escola, o Liceu, nos arredores da cidade. Para sua instalação alugou várias casas em um pequeno parque consagrado a Apolo Licio e às Musas, Certamente estar cercado pela natureza lhe facilitava dar aos seus discípulos suas aulas de História Natural e Física, o que fazia em passeios pela manhã, de onde o apelido de “peripatéticos” herdado pelos seus seguidores. As tardes eram reservadas para as aulas que interessavam a um maior número, versando temas de retórica, sofistica ou política.

Aristóteles desenvolveu uma atividade intelectual enorme. Quase todas as suas obras são desta época. Reuniu um material científico incalculável que lhe permitiu fazer avançar de uma forma prodigiosa todo o saber do seu tempo. Na morte de Alexandre, em 323, suscitou-se em Atenas um movimento anti-macedóni:o, que foi hostil para Aristóteles. Acusado de impiedade, não quis – disse ele – que Atenas pecasse outra vez contra a filosofia – referia-se à perseguição de Anaxágoras e à morte de Sócrates-. Assim, partiu para Calcis, um pouco ao norte de Atenas, na ilha de Eubeia, onde era forte a influencia macedónica, tendo ali morrido no ano de 322.

Aristóteles escreveu grande quantidade de livros. As obras em forma de diálogo perderam se todas. Só restam fragmentos. Em contrapartida, conservou-se a parte fundamental da sua obra científica. Porém, entre os escritos a ele atribuídos encantram se alguns apócrifos, outros foram feitos em colaboração com discípulos ou foram redigidos por estes com base em apontamentos tirados nas aulas.

As ciencias teóricas são, para Aristóteles, a matemática, a física e a metafísica. As principais obras deste grupo são: a Física, o livro “Do Céu”, o “Do Mundo”, o De Anima e toda uma série de tratados sobre questões físicas e biológicas; e, sobretudo, os catorze livros de Metafísica ou Filosofia Primeira.

As ciências, que chama “práticas” são a ética, a política e a economia, isto é, as da vida individual e social do homem. As suas obras principais são as três Éticas: Ética a Nicómaco, Etica a Eudemo e a ética Maior (a menos extensa das três e não autêntica); a Política e os Económicos, estes de interesse muito inferior, e seguramente apócrifos. As obras poéticas principais são a Poética, que exerceu uma influência extraordinária, e a Retórica.

A isto há que juntar uma grande quantidade de breves tratados de todas as matérias da enciclopédia científica aristotélica e um repertório de questões variadas, de redação provàvelmente posterior, que se chama os Problemas.

24 Modalidades de comportamento dedutíveis da filosofia aristotélica.

No livro “Ética a Nicômaco “Aristóteles diz coisas sobre a qualidade moral das ações humanas o bastante para extrairmos dele uma teoria do comportamento, apesar do próprio filósofo não haver apresentado suas idéias sob essa forma.

Motivação.

No primeiro livro da Ética, Aristóteles se pergunta qual o bem cuja busca é a motivação fundamental do comportamento humano. Apesar de filósofo, ele não parte de deduções filosóficas, mas da opinião que as pessoas têm sobre qual a finalidade que as atrai naquilo que fazem. E revela: “Em palavras, o acordo quanto a este ponto é quase geral; tanto a maioria dos homens quanto as pessoas mais qualificadas dizem que este bem supremo é a felicidade, e consideram que viver bem e ir bem (ser bem sucedido) equivale a ser feliz” (Et. a Nic., Cp. I, 4, trad. de M. da Gama Cury, ed. UnB; o parênteses é nosso).

O que será, então, viver bem e ser bem sucedido, ou “ir bem”?

Diz Aristóteles, incisivamente: “A humanidade em massa se assemelha totalmente aos escravos, preferindo uma vida comparável à dos animais”. Porém, dos indivíduos mais qualificados, diz que estes “parecem perseguir as honrarias com vistas ao reconhecimento de seus méritos; ao menos eles procuram ser honrados por pessoas de discernimento, e entre aquelas que os conhecem, e com fundamento em sua própria excelência (Et. a Nic., Cp. I, 5; idem).

Podemos extrair desse trecho a conclusão de que o homem busca ser feliz, seja diretamente pela posse de objetos de prazer, seja por via transacional, em que recebe do outro o reconhecimento de sua excelência pessoal. Tem, portanto, um comportamento que é objetivo e outro que é transacional.

Passemos ao De Anima. Este livro é um livro de física, um dos tratados referentes às coisas naturais pois, para Aristóteles, a alma é fundamentalmente “vegetativa”.

Alguns de nossos comportamentos correspondem a essa alma vegetativa. Ela é assim chamada porque é a alma mais simples, e é própria dos vegetais. Aos comportamentos vegetativos do homem Aristóteles dá pouca atenção, pois correspondem a movimentos diretamente decorrentes da fisiologia do corpo como dormir, bocejar, etc.

Porém os homens têm na alma faculdades outras além daquelas próprias da alma vegetativa, pois se movimentam e buscam coisas que desejam, ou fogem do que lhes assusta. Por isso, além das funções da alma vegetativa, a alma do homem tem também funções próprias da alma sensitiva dos animais. Entre as ocupações que se vinculam à alma sensitiva está a busca do prazer.

Poderíamos chamar a esses comportamentos voltado para os objetivos mais primários de nutrição, defesa, ataque, e reprodução Comportamentos apetitivos-impulsivos.

Mas, a alma humana é a mais completa de todas, e tem, além das funções que encontramos nas almas dos vegetais e dos animais, mais uma outra, que é a função da racionalidade, de modo que o seu comportamento mais próprio e mais excelente seria aquele governado por essa última e mais alta função.

Ora, pode-se dizer então que as funções vegetativas e sensitivas correspondem ao elemento irracional da alma humana, e Aristóteles se apressa em esclarecer que esse elemento irracional, conquanto gere seus próprios comportamentos, pode também subordinar-se, em parte, à razão. É quando ele diz: “Seja como for, não devemos duvidar de que haja na alma um elemento além da razão, resistindo e opondo-se a ela”…”Mas mesmo este elemento parece participar da razão, como dissemos; de qualquer forma, nas pessoas dotadas de continência ele obedece à razão, e presumivelmente ele é ainda mais obediente nas pessoas moderadas e valorosas, pois nestas ele fala, em todos os casos, em uníssono com a razão” (Et. a Nic., 1, 13, idem).

Depois de Aristóteles viria a escola Epicurista que, justamente, aplica a razão na busca do prazer. Temos portanto uma categoria de comportamentos em que a razão não fornece nenhum outro objetivo além daqueles objetos de prazer, porém se aplica em que sejam conseguidos de modo prudente, eficaz e seguro, e sobretudo leva ao seu acúmulo. Comportamentos desse grupo seriam Comportamentos apetitivos-racionais

Aristóteles, depois de dividir a parte irracional em duas, uma impulsiva e outra associada à razão, vê-se obrigado a também dar à razão duas categorias diferentes de ação: aquela que dirige o comportamento apetitivo e pode moderá-lo inteligentemente, e aquela que pode modera-lo com vistas a um outro nível de valores: os valores morais. Diz: “A excelência também se diferencia em duas espécies, de acordo com esta subdivisão, pois dizemos que certas formas de excelência são intelectuais e outras são morais (a sabedoria, inteligência e o discernimento, por exemplo, são formas de excelência intelectual, e a liberalidade e a moderação, por exemplo, são formas de excelência moral)” (Et. a Nic., idem). São o que chamaríamos comportamentos meta-apetivos.

E chegamos então ao Intelecto humano, que Aristóteles diz que pode ser ativo ou passivo, o que quer dizer que se manifesta dessas duas maneiras, e como o intelecto domina todas as outras funções, haverá, portanto, comportamentos ativos e passivos para todas as funções. Isto nos permite concluir que os comportamentos de quaisquer das categorias acima, poderão, por sua vez, ser ativos ou passivos.

Exemplos:

  1. Modalidade dos apetitivos impulsivos, objetivos, ativos: Compreendem a busca de objetos da sensualidade na satisfação de necessidades vitais; têm por objetivo a posse direta do objeto físico fonte de prazer, incluída a busca do objeto sexual. É um comportamento impulsivo em relação a afagos físicos, entendido por “afagos” tudo que causa prazer sensível.
  2. Modalidade dos apetitivos impulsivos, objetivos, passivos: É o prazer passivo, a eventual troca, aceitação ou compra de carícias; bocejar e espreguiçar, coçar-se, entregar-se ao sono ou ao descanso. Aceitação do gozo de sensações, receber afagos físicos. É impulsivo objetivo, passivo, não buscado, mas por aceitação do gozo de sensações, receber afagos físicos.
  3. Modalidade dos apetitivos impulsivos transacionais, ativos: É o comportamento desconsiderador. Também visa a defesa de exclusividade e propriedade, ou é uma forma cruel de exercício do poder, submeter ou derrotar o outro; sadismo como variante do comportamento sexual; atuação física sobre o outro, pode ser provocativo, gratuito, ou principalmente é ativo reativo, como defesa de exclusividade, defesa da propriedade, ou com vistas a uma vitória e seu respectivo sentimento de excelência. Não visa objetos mas as pessoas.
  4. Modalidade dos apetitivos impulsivos, transacionals, passivos: Aceitação de provas humildade e submissão do outro; recebimento de serviços de vassalagem; manter-se às custas do temor, dos próprios encantos pessoais; reconhecimento envolvendo sacrifício, submissão e prejuízo do outro.
  5. Modalidade dos apetitivos racionais, objetivos, ativos: Constituem o “Comportamento polido, “civilizado”. Compreendem a busca de alvos substitutos dos alvos naturais de prazer do comportamento impulsivo, elaborados, ou destorcidos: degustar, saborear, fumar, etc. Os comportamentos desse grupo compreendem a busca de alvos substitutos dos alvos genéticos do comportamento impulsivo, elaborados, ou distorcidos, de prazer. Por exemplo: fumar, bebidas, música e dança, etc.
  6. Modalidade dos apetitivos racionais, objetivos, passivos: Uso passivo de elementos elaborados, diferentes dos puramente naturais e inclusive distorcidos, de prazer. Musica, concertos, diversões passivas, massagens, certas formas de perversão masoquista, etc.
  7. Modalidade dos apetitivos racionais, transacionals, ativos: Atuação para o outro ou sobre o outro, com vistas a um sentimento de excelência na vitória. Compreendem, por exemplo, atividades astuciosas ou camufladas, armações políticas, gozo do exercício do poder e esmero na destruição do inimigo, estratégia de guerra, articulação hábil, criadora ou destruidora. Esforço por um prêmio; sentimento de excelência em submeter e derrotar o outro de modo astucioso; jogos e competições esportivas.
  8. Modalidade dos apetitivos racionais, transacionals, passivos: Receber aclamação como hábil articulador, receber provas de submissão a ordens, aceitação de poder ilegítimo, Excelência no reconhecimento recebido dos que o admiram ou o temem em decorrência de talento ou classe profissional, fortuna, poder político ou domínio em uma área específica de conhecimento ou de atividade.
  9. Modalidade dos meta-apetitivos objetivos e ativos: Direto, sobre alvos genéticos ou elaborados, buscados em medidas segundo prescrições externas. Consciência e controle do comportamento impulsivo e apetitivo cultural sobre alvos genéticos, buscados em medidas segundo prescrições de sua crítica moral.
  10. Modalidade dos meta-apetitivos objetivos e passivos: Aceitos em iguais condições de adequação a prescrições externas.
  11. Modalidade dos meta-apetitivos transacionais, ativos: Ação e reação dirigida sobre pessoas ou no interesse de pessoas com a preocupação de justiça e honradez. Arriscar a vida pelo outro.
  12. Modalidade dos meta-apetitivos transacionais, passivos: Aceitar ser objeto de reconhecimento numa medida justa.

Como cada uma dessas modalidades pode ser de perda ou de ganho, como quando o indivíduo se engana ou é enganado, então cada modalidade pode ser dita positiva ou negativa, resultando, portanto, 24 modalidades possíveis de comportamento.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 29-10-1999. Última revisão em 29-10-2019.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Comportamento em Arisóteles, Página de Educação e Comportamento. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2019.