Jean Piaget

Hoje: 19-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

Psicólogo e filósofo suíço, Jean Piaget foi um importante teórico do processo do conhecimento humano (epistemologia). Inúmeras biografias de Piaget foram escritas e estão disponíveis nas bibliotecas e na Internet. Por esses seus inúmeros biógrafos, que se apoiam em revelações do próprio Piaget, fica-se conhecendo a longa vida que viveu, imerso em estudos, que renderam avanços na neurologia, na psicologia e principalmente na pedagogia.

Nasceu em 9 de agosto de 1896, na cidade suíça de Neuchâtel, no Cantão francês, e faleceu em Genebra, em 1980. Nenhum de seus biógrafos deixa de salientar o fato de que, na idade de 10 anos, escreveu um artigo sobre um pardal inteiramente branco (albino), para impressionar a bibliotecária da universidade, que não tomava a sério sua capacidade de entender os livros que buscava ler, e que o estratagema deu certo.

Ainda adolescente, Piaget tornou-se internacionalmente conhecido através da publicação de vários artigos sobre espécies de moluscos, cuja evolução, indicada pelos fósseis, era a chave e único indicador para a datação das camadas de rochas, em sua época. Seus estudos eram, portanto, objeto de grande interesse para a pesquisa petrolífera que se intensificava no início do século, e deles, julgo que ficou em Piaget uma certa inclinação pelo enfoque evolutivo, que depois aplicaria na preparação dos testes de inteligência infantil a que mais tarde se dedicou.

Piaget bacharelou-se em Biologia pela Universidade de Neuchâtel em 1915; e após doutorar-se em Ciências Naturais na mesma universidade em 1918, mudou-se para Zurique para estudar Psicologia.

A oportunidade de trabalhar no laboratório de testes de Alfred Binet, em 1919, em Paris, foi decisiva para sua orientação científica. Foi tentando aperfeiçoar testes de QI que Piaget ingressou em suas pesquisas sobre as fases do amadurecimento da inteligência na criança.

Em 1921, Eduardo Claparéde, psicólogo da educação e diretor do instituto Jean-Jacques Rousseau de Genebra destinado à formação de professores, que se havia impressionado com um artigo recebido de Piaget sobre a inteligência infantil, lhe ofereceu um lugar de pesquisador no Instituto. Lá Piaget publicou, em 1923, o seu primeiro livro, “A Linguagem e o Pensamento da Criança”. No ano seguinte casou-se com sua assistente Valentine Châtenay, com a qual teve três filhos, Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laureni (1931), crianças cujo desenvolvimento mental Piaget acompanhou e descreveu detalhadamente.

Os resultados obtidos da observação da conduta de seus próprios filhos, que abarcaram o período desde o nascimento até aproximadamente 2 anos (período que Piaget designou “sensorio-motor”), foram publicados em 2 volumes: O Naissance de l’ intelligence chez l’ enfant (“O nascimento da inteligência da criança”), de 1936, e La construction du réel de l’enfant (“A construção de o real na criança”), de 1936. Mais tarde Piaget sucedeu Claparede como diretor e como professor na universidade de Genebra onde lecionou História do Pensamento Científico, Psicologia e Sociologia.

Após a Guerra, em 1946, Piaget participou da criação da UNESCO, órgão das Nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura, colaborando na elaboração de seu regimento e tornando-se membro do seu conselho executivo. Em 1950 publicou a primeira síntese de sua teoria do conhecimento: “Introdução à Epistemologia Genética”. Nomeado em 1952, foi professor na Sorbone até 1963.

Em 1956 Piaget criou, na Faculdade de Ciências de Genebra, o Centro Internacional de Epistemologia Genética, onde passou a investigar sistematicamente, com o apoio de uma grande equipe, o desenvolvimento do pensamento da criança nos modos de pensar moral, abstrato, lógico e concreto. É de 1967 sua principal obra: “Biologia e Conhecimento”. Veio a falecer em Genebra a 17 de setembro de 1980.

TEORIA

Os testes aplicados por Piaget a crianças desde tenra idade, – a principal atividade no Centro Internacional por ele criado em Genebra – provaram que as aptidões para o raciocínio evoluem segundo estágios sucessivos ao longo do desenvolvimento físico da criança. Então, se tais aptidões acompanhavam o desenvolvimento orgânico do indivíduo, elas tinham raízes em estruturas também orgânicas ou genéticas. Em seu entender, isto contrariava a fórmula comportamentalista S-R, que expressa o estímulo e a resposta sem a representação do que existe na mente que identifica o estímulo e permite a resposta.

Piaget determinou quatro estágios no desenvolvimento da capacidade de raciocínio do indivíduo, que se sucediam até o início da sua adolescência e correspondiam a sucessivas fazes de seu crescimento físico. Essa descoberta tornou-se muito conhecida e fundamento para a pedagogia, a partir de então.

Ao primeiro estágio chamou Sensório-motor. Ele corresponde aos dois primeiros anos da vida e caracteriza-se por uma forma de inteligência empírica, exploratória, não verbal. A criança aprende pela experiência, examinando e experimentando com os objetos ao seu alcance, somando conhecimentos.

No segundo estágio, que ele chamou Pré-operacional, e que vai dos dois anos aos sete anos, os objetos da percepção ganham a representação por palavras, as quais o indivíduo, ainda criança, maneja experimentalmente em sua mente assim como havia previamente experimentado com objetos concretos.

No terceiro estágio, dos sete aos doze anos, as primeiras operações lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme suas semelhanças ou diferenças.

No quarto estágio, dos doze anos até a idade adulta, o indivíduo realiza normalmente as operações lógicas próprias do raciocínio.

Os estágios têm caráter integrativo. As estruturas construídas a um nível dado são integradas nas estruturas do nível seguinte. Por exemplo, um “esquema de reunião” para condutas como a de um bebê que empilha toquinhos, permanece na criança mais velha que ajunta objetos procurando classificá-los e mesmo em operações lógicas tais como a reunião de duas classes (os pais mais as mães = todos os pais, etc.). Assim, o desenvolvimento por estágios sucessivos realiza em cada estágio um patamar de equilíbrio. Desde que o equilíbrio seja atingido num ponto, a estrutura é integrada em um novo equilíbrio em formação, sempre mais estável e de campo sempre mais extenso. A ordem de sucessão das aquisições é constante, no sentido de que uma característica não aparecerá antes de outra num conjunto de indivíduos, e depois em sequência diferente, em outro conjunto.

Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 21-04-2003.

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Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Jean Piaget. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.