Hoje: 13-10-2024
Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br
Na Igreja Católica, o casamento é um dos sete sacramentos. A liturgia pode compreender dois rituais: a missa e o casamento, ou apenas o ritual do casamento. A data e o ritual escolhidos são marcados na igreja mediante a apresentação dos documentos requeridos pela Cúria Diocesana. A cerimônia consiste, essencialmente, em três etapas: a entrada do cortejo pela nave, a liturgia, a saída dos participantes. As orações têm algumas partes tradicionais mas o ritual romano permite uma grande liberdade de adaptação, complementação e acréscimos à liturgia do matrimônio. Por isso, se os noivos vão imprimir o texto para distribuir entre a assistência, tratarão do assunto com o celebrante. O texto é um se o casamento é celebrado em meio a uma missa, e outro se a celebração é sem missa.
Cortejo de entrada. Os convidados devem estar presentes antes de a noiva entrar porque, juntamente com o sacerdote eles representam a Igreja que recebe o casal para a benção matrimonial; devem se lembrar desse papel e de que estão assistindo a uma solenidade, e evitar muita curiosidade e ruído de comentários à entrada do cortejo, e guardar a postura distinta e compenetrada que a cerimônia exige.
Do lado esquerdo do corredor central, os bancos são destinados aos convidados da noiva; do lado direito da entrada, aos convidados do noivo. Porém, lados contrários podem ser preenchidos na medida em que isto se fizer necessário para que todos tenham assento. Alguém da família da noiva pode ficar encarregado de receber os convidados à entrada e orientá-los quando ao lado que devem ocupar, indagando se são convidados do noivo ou da noiva. Lugares podem ser reservados com uma etiqueta, para acomodação de convidados mais importantes ou mais velhos.
O cortejo começa com a entrada dos casais de padrinhos, guardando entre eles a distância de aproximadamente um quarto do caminho a percorrer (Fig. 1). Alternam-se os padrinhos do noivo e os padrinhos da noiva, sendo de padrinhos do noivo o primeiro casal a entrar. Os casais, a mulher à esquerda do homem, se dirigem respectivamente para o lado direito do altar, lado dito do noivo, ou para o lado esquerdo do altar, dito lado da noiva, e tomam lugar nas cadeiras especialmente dispostas para eles, ou ocupam o primeiro banco dos que ficam reservados aos padrinhos, na primeira fileira.
Ao final da entrada dos padrinhos, após a pausa suficiente para que o corredor fique livre, entram a mãe da noiva de braços com o pai do noivo (Fig. 2), e se colocam próximo ao altar, do lado esquerdo, voltados para a assembleia. Novamente livre o corredor central, entra o noivo, de braço esquerdo dado à sua mãe. Chegados ao altar, voltam-se para a assistência, posicionados à direita do corredor central do templo, simetricamente e à mesma altura em que estão o pai do noivo e a mãe da noiva – a mãe um passo atrás e mais próxima do altar que o noivo -, e passam a aguardar os demais participantes.
O sacerdote aparece e assume seu lugar tendo às costas o altar e à frente o genuflexório para os noivos.
É costume, após a entrada do noivo e sua mãe, que a porta de entrada do templo seja fechada por um instante, para caracterizar que toda a Igreja está pronta a receber a noiva. Pai e filha esperam que seja aberta a porta do templo e o órgão anuncie a todos que a noiva está entrando. Reaberta a porta, a noiva entra de braços com o pai (Vide abaixo o subtítulo De que lado entra o pai da noiva?)
A entrada da noiva é marcada pela marcha nupcial, e deve caminhar a passos lentos, coincidentes com os acordes que terminarão ao mesmo tempo de sua chegada ao altar.
Crianças com vestidinhos longos de seda e brocados, terninhos ou fraque infantil, que caminham à frente da noiva e seu pai como damazinhas e pajens (Fig.3), geralmente criam simpatia e descontração na assistência. Podem levar uma almofada ou uma cestinha com as alianças, a menina um buquê para entregar a noiva, se esta desejar, após a benção nupcial, depositar um buquê de flores em um dos altares laterais, geralmente aos pés de um quadro ou escultura de Maria, mãe de Jesus. As crianças substituíram as jovens casadoiras (as clássicas demoiselles d’honneur),e os jovens pajens imberbes (garçons d’honneur) que antigamente faziam esse papel.
Ao aproximar-se a noiva, o noivo beija sua mãe como despedida, e avança um ou dois passos para receber a noiva.
Diante do noivo(Fig.4), o pai da noiva também se despede da filha, beijando-lhe a testa depois de alçar levemente o seu véu, e em seguida cumprimenta o noivo. Faz um gesto discreto de entrega da filha, e encaminha-se para onde está sua esposa. O noivo apresenta o braço esquerdo à noiva e a conduz ao altar. O casal se posta diante do genuflexório e do sacerdote.
Após o encontro com o noivo, a noiva se afasta, levada por ele – que lhe dá o braço esquerdo, ressalvadas as exceções acima mencionadas –, e seu pai deve passar para o lado esquerdo da nave, reservado, como dito, à família da noiva e seus convidados.
Um vestido de noiva de cauda longa pode requerer redobrada atenção por parte do pai da noiva, quando passa da direita para a esquerda. Ele deve aguardar por um instante que os noivos avancem para o altar. Deste modo o vestido longo da noiva não impedirá sua passagem para o lado esquerdo, onde irá sentar-se. Porém, se o espaço entre os bancos e o altar for muito pequeno, ou a cauda muito longa, é provável que o avanço dos noivos não seja suficiente para deixar livre o caminho. Neste caso o pai não pula a cauda do vestido da noiva mas a contorna ou, como dito, o casal faz a opção de entrar o pai pelo lado esquerdo.
O pai da noiva junta-se a sua esposa (Fig. 5) ficando no lugar em que estava o pai do noivo e este passa discretamente para o outro lado, tomando lugar à direita de sua mulher, que havia ficado só quando o filho encaminhou-se para encontrar a noiva. Os dois casais encaminham-se para os respectivos lugares que poderão ser cadeiras colocadas ao lado do altar, no presbitério onde ja se encontram, ou os dois primeiros assentos de cada lado do corredor central, no primeiro banco de cada lado, o homem na ponta externa e a mulher junto a ele, no lado interno.
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De que lado entra o pai da noiva? Respondo a essa pergunta primeiro valendo-me da minha própria experiência. Nos casamentos de minhas três filhas (dois nos Estados Unidos e um na Europa), os vigários me colocaram à direita, dando eu o meu braço esquerdo à noiva. Esta é também a posição que observei em vários casamentos que assisti, excetuados alguns em que o pai da noiva, ou o noivo, era militar de uma das três armas e usava farda de gala na cerimônia.
As razões que conheci para a posição do pai à direita da filha no cortejo de entrada do casamento, dando a ela seu braço esquerdo – e que me parecem boas razões – são as seguintes:
- É prática em algumas comunidades católicas mais tradicionalistas (Eu a presenciei, e creio que perdurou ainda por muitos anos, na igreja dos metalúrgicos luxemburgueses em João Monlevade, Minas Gerais), que fique reservado aos homens o lado direito da nave, e às mulheres o lado esquerdo. Esta disposição já foi norma do Direito Canônico, hoje em desuso. Ela é, com certeza, a origem desse costume de os convidados do noivo (predominantemente homens) se sentarem no lado direito e os convidados da noiva (predominantemente mulheres) no lado esquerdo da igreja –, mas já não importa o sexo e um casal não se separa por essa razão. Se na celebração essa tradição for respeitada (geralmente alguém da família orienta os convidados a esse respeito, à porta do templo), então a noiva pode sorrir para suas amigas e amigos, e ser melhor vista por elas e eles se vem do lado esquerdo de seu pai, no cortejo de entrada. No cortejo de saída virá pelo mesmo lado, estando à direita do noivo;
- Tendo a noiva à sua esquerda, o pai tem o braço direito livre para cumprimentar o noivo ao alcançá-lo junto ao altar. Como visto acima, o pai, ao chegar próximo do noivo, volta-se para sua filha, afasta o seu véu e beija-lhe a testa, e em seguida se volta para o noivo e o cumprimenta, e depois faz um discreto gesto de apresentação ou entrega da filha, afastando-se após esse procedimento;
- Pode ser considerado pouco respeitoso o noivo aguardar a noiva dando ele as costas ao altar ou ao sacerdote, de modo a estar de frente ao pai da noiva e cumprimentá-lo, se o pai vem pelo lado esquerdo rumo ao presbitério. O lugar do noivo, como visto, é de pé frente ao primeiro banco à direita, e observa a aproximação da noiva posicionando-se obliquamente ao corredor central, sem chegar a dar as costas para o altar – o ponto mais sagrado do templo –, ou postar-se à frente do celebrante, que é a figura máxima da liturgia. Nos casamentos mais simples, em que cumprimentar o noivo não faz parte do protocolo, então o pai pode perfeitamente entrar pelo lado esquerdo da noiva, se esta for a preferência do cerimonialista ou dos próprios noivos. Porém o gesto de cordialidade para com o noivo me parece simpático, como sinal de que o pai está feliz com a escolha feita por sua filha;
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Quando conduz pelo braço uma mulher, em geral o homem procura tê-la à sua esquerda, a fim de ter a mão direita livre para abrir uma porta, tirar o chapéu para cumprimentar alguém, ou estendê-la para receber um aperto de mão (e a isto, a mulher não está obrigada). Embora estes não sejam gestos esperados em um cortejo, não há porque não prevalecer o que é habitual, isto é, dar à mulher (no caso a noiva) seu braço esquerdo.
- Os cerimonialistas no entanto reconhecem as exceções obviamente necessárias â prática referida como, por exemplo, quando o pai, ou o noivo, é um militar ou um príncipe, e está fardado (pode ter um espadachim do lado esquerdo). Neste caso o noivo aguarda no lado direito da nave, mas passa para o lado esquerdo ao conduzir a noiva ao altar, e no cortejo o pai também entra pelo lado esquerdo e dá o braço direito à filha, e ambos fazem um giro e se colocam frente ao noivo para o cumprimento do pai, sem aquele necessitar sair de seu lugar. Esta pode ser também a melhor solução quando o vestido da noiva é excepcionalmente comprido.
Mas parece que não há unanimidade a respeito. Em vários casamentos vi a noiva entrar em posição contrária, à direita, o pai dando-lhe o braço direito, sem que estivesse fardado. Também nos livros especializados encontrei as duas formas. Alguns autores importantes como Amy Vanderbilty e Emily Post colocam o pai da noiva no lado esquerdo do cortejo, porém não explicam porque fazem isto. Mas outros, igualmente famosos, colocam o pai do lado direito da noiva: por exemplo Marcy Blum, duas vezes apontada “a melhor planejadora de casamentos” pelo New York Magazine. Uma pesquisa na Internet com certeza revelará a mesma divergência.
Porém, estará mais ao gênio dos brasileiros a liberdade de organizar sua festa de casamento inteiramente ao seu gosto, livre de tradições e de regras, e de acordo com sua própria imaginação ou segundo a criatividade do cerimonial contratado. Nada impede – nem a Igreja recusará, acredito –, quaisquer variações, desde que o rito religioso seja encaixado na cerimônia de modo respeitoso e contenha as palavras de fé e compromisso indispensáveis.
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Liturgia. Os noivos ficam de pé frente ao sacerdote, ou de joelhos em um genuflexório geralmente adornado disposto frente ao altar. Os pais e os padrinhos ocupam cadeiras dispostas à esquerda e à direita do altar ou simplesmente o primeiro banco do lado esquerdo, lado da noiva e seus convidados, e lado direito, lado do noivo e seus convidados.
O sacerdote dá início à parte litúrgica com palavras de boas vindas e enaltecimento do valor do matrimônio.
Quando o rito do matrimônio está inserido no ritual da missa, um padrinho do noivo faz a primeira leitura. Pode fazer-se acompanhar da esposa, e os dois se alternarão na leitura dos parágrafos. Concluem em uníssono : “Palavras do Senhor”.
A segunda leitura é feita de igual modo, por um padrinho ou casal de padrinhos da noiva.
O sacerdote lê o evangelho e faz a prédica. Terminado o seu sermão, anuncia o ritual do casamento.
Algumas frases que o noivo e a noiva deverão pronunciar na parte litúrgica, eles precisam decorar ou pelo menos familiarizarem-se com elas, a fim de poderem repeti-las em voz alta, ouvindo o sacerdote sussurrar-lhes como um ponto de teatro.
Depois que os noivos pronunciam seu compromisso mútuo, o sacerdote solicita as alianças. A damazinha ou o pajem que as trouxe aproxima-se para entregá-las ao sacerdote. Depois de abençoá-las, o sacerdote as passa aos noivos para que as coloquem respectivamente no dedo anelar.
Após colocadas as alianças, o padre convida os noivos a que se beijem como indicação do seu amor.
Reinicia-se a liturgia da missa, com o credo e a oração universal..
Após a comunhão, se os recém-casados desejam levar um buquê de flores a um altar lateral, poderão fazê-lo; uma das madrinhas ou a damazinha das flores lhes traz o ramalhete. Após essa oferenda, breve tanto no gesto quanto na oração silenciosa que desejem fazer, retornam ao seu lugar junto ao genuflexório para receberem a benção final da cerimônia.
Assinaturas e fotos. Terminada a missa, são assinados os papeis pelos noivos e pelos padrinhos, sobre o altar ou sobre uma mesinha disposta lateralmente, numa das pequenas naves laterais.
Segue-se uma breve sessão de fotos, compreendendo o momento da assinatura e um posicionamento dos recém-casados, a sós e com seus pais diante do altar. A assistência permanece em seu lugar, aguardando o cortejo de saída. Não é o momento para fotos com parentes e amigos, o que será feito mais tarde, na recepção.
Cortejo de saída. Terminadas as fotos com os pais diante do altar, o noivo dá o braço esquerdo à noiva, e descem ao átrio, atravessando o templo rumo à porta principal. A ordem em que os participantes deixam o altar é inversa da ordem de chegada. À frente caminham pela nave os recém-casados. Logo se lhes seguem os pais da noiva, os pais do noivo e os casais de padrinhos, que deixam os bancos da esquerda e da direita, alternadamente, e se encaminham, bem próximos uns dos outros, para a entrada principal. Como o pai da noiva agora está livre para fazer par com sua esposa, e a mãe do noivo também, não há mais a necessidade da cortesia feita à entrada, quando o pai do noivo conduziu pela nave a mãe da noiva.
Recebendo os cumprimentos. Os convidados precisam de uma oportunidade para cumprimentar os recém-casados e estes, e seus familiares, precisam de uma oportunidade para agradecer a presença de todos na cerimônia. As alternativas para isso são, (a) receber os cumprimentos na igreja, posicionando-se em uma “fila de cumprimentos” tanto os que receberão os cumprimentos quanto os que irão apresentá-los; (b) receber os cumprimentos sem fila organizada, dentro ou fora da igreja, e isto vai melhor quando se abre mão do cortejo de saída; ou (c) deixar para receber os cumprimentos e efetuar os agradecimentos na recepção.
A fila de cumprimentos pode ser disposta ainda no interior da igreja, próxima à porta, ao final do corredor central, caminho de saída dos convidados. Desde que os integrantes da fila, tanto os que recebem como os que apresentam os cumprimentos, estejam conscientes de que devem usar poucas palavras, a fila de cumprimentos se move sem problemas e não se torna aborrecida para ninguém. Tradicionalmente, esta é a ordem em que se dispõe os noivos e seus familiares: a mãe seguida do pai da noiva, a mãe do noivo seguida do pai, a noiva e o noivo.. Esta ordem reflete o fato de que os convites para a cerimônia foram feitos pelos pais da noiva e do noivo, e portanto em todos os eventos da celebração abrangidos pelo convite eles é que são os anfitriões, – com prioridade para os pais da noiva – e portanto são os primeiros a receberem os cumprimentos, e não os recém-casados.
O pai da noiva e o pai do noivo poderão não participar da fila de cumprimentos, a fim de que esta flua mais rapidamente, quando na igreja ou, se os cumprimentos são na entrada da recepção, porque sua presença no salão pode ser necessária como anfitriões para os convidados que já estão a buscar os seus lugares e são servidos de aperitivos. Neste caso, na frente da fila de cumprimentos posta-se a mãe da noiva, depois a mãe do noivo, esta seguida da noiva e do noivo.
No entanto, pode ser dispensado o cortejo de saída na igreja e assim fica dispensada também a linha de cumprimentos. Neste caso os recém-casados receberão ainda ao pé do altar os cumprimentos de seus pais e padrinhos. Os presentes abandonam seus lugares para cumprimentá-los e seus familiares, sem no entanto monopolizar sua atenção com uma conversa prolongada, a fim de dar vez a todos.
Rubem Queiroz Cobra
Página lançada em 05-10-2003.
Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Casamento religioso católico. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003.