Como Escrever uma Peça de Teatro

Hoje: 19-03-2024

Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
Site original: www.cobra.pages.nom.br

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Uma página sobre como escrever um Roteiro de Teatro não basta para passar toda a ideia do que é e do que requer essa tarefa. É necessário que a pessoa tenha assistido a um espetáculo teatral pelo menos uma vez, e que leia alguns roteiros, para que tenha a noção completa do que é escrever uma peça, e sobretudo para compreender as limitações a que o teatro está sujeito, se comparado a outros meios de produção artística como a literatura e o cinema, e também o potencial dessa forma rica de expressão artística.

Escrever uma peça corresponde a escrever o Roteiro, ou Script, para a representação teatral de uma história. O Roteiro contém tudo que é dito pelos atores no palco, e as indicações para tudo que deve ser feito para que a representação seja realizada. O modelo gráfico do roteiro varia. O apresentado abaixo é apenas um formato, entre vários que o dramaturgo poderá escolher.

A peça de Teatro divide-se em Atos e Cenas. Os Atos se constituem de uma série de cenas interligadas por uma subdivisão temática. As cenas se dividem conforme as alterações no número de personagens em ação: quando entra ou sai do palco um ator. O cerne ou medula de uma peça são os diálogos entre os personagens. Porém, o Roteiro contém mais que isto: através das Rubricas e das Indicações ele traz as determinações indispensáveis para a realização do drama e assim orienta os atores e a equipe técnica sobre cada cena da representação.

As Rubricas (também chamadas “Indicações de cena” e “indicações de regência”) descrevem o que acontece em cena; dizem se a cena é interior ou exterior, se é dia ou noite, e o local em que transcorre. Interessam principalmente à equipe técnica. Apesar de consideradas como “para-texto” ou “texto secundário”, são de importância próxima à do próprio diálogo da peça, uma vez que este normalmente é insuficiente para indicar todas as ações e sentimentos a serem executados e expressos pelos atores. Sylviane Robardey-Eppstein, da Uppsala Universitet, no verbete Rubricas do Dictionnaire International des Termes Littéraires, faz uma classificação minuciosa das rubricas. Vamos aproveitar aqui apenas as seguintes categorias: Macro-rubrica e Micro-rubrica, esta última dividida em Rubrica Objetiva e Rubrica Subjetiva.

A Macro-rubrica é uma Rubrica geral que interessa à peça, ou ao Ato e às Cena. É também chamada “Vista”, e é colocada no centro da página, no alto do texto respectivo, e escrita em itálico ou em maiúsculas, e colocada entre parênteses. As demais Rubricas estão inseridas no diálogo e afetam apenas a ação cênica ou a representação do ator.

A Micro-rubrica Objetiva refere-se à movimentação dos atores: descreve os movimentos, gestos, posições, ou indicam o personagem que fala, o lugar, o momento, etc.

As Micro-rubricas Subjetivas interessam principalmente aos atores: descrevem os estados emocionais das personagens e o tom dos diálogos e falas.

As Rubricas ou Indicações ficam em linhas separadas colocadas entre parênteses e escritas em itálico, afastadas da margem esquerda uma meia dúzia de espaços (endentação). Podem também ficar no centro, ou cair em meio à fala. A micro-rubrica objetiva antecede a subjetiva, quando houver.salvo quando – inseridas na fala – a expressão de um sentimento vem antes de um movimento.

Ao fazer as Indicações Cênicas ou Rubricas o dramaturgo (o Autor) interfere na arte de dirigir do Diretor de Cena e também enquadra a interpretação dos atores (seus gestos, expressão de sentimentos, etc.) sem respeitar sua arte de interpretar. Por essa razão deve limitar-se a fazer as indicações mínimas requeridas para o rumo geral que deseja dar à representação, as quais, como autor da peça, lhe cabe determinar.

As falas são alinhadas na margem esquerda da folha. Cada fala é antecedida pelo nome do personagem que vai proferi-la, em letras maiúsculas (caixa alta), e seguido de dois pontos. O nome pode estar na mesma linha, porém é preferível que fique acima da linha da fala e das rubricas que lhe pertencem, como no exemplo abaixo.

As palavras precisam ser impressas com nitidez e ser corretamente redigidas. Usa-se em geral a letra Courier no tamanho 12. Entre a fala de um e de outro personagem é deixado um espaço duplo. Os verbos estarão sempre no tempo presente, e a ordem das palavras deve corresponder à sequência das ações indicadas.

Resumindo:

  • ATOS e CENAS em maiúsculas normais.
  • Indicações sempre em minúsculas e itálico.
  • Indicações gerais de ATO e de CENA (envolvendo mais de um ator) entre colchetes, em minúsculas, em itálico e parágrafos justificados e estreitos, alinhados ao recuo esquerdo;
  • indicações ao Ator, após seu nome em uma indicação que já está entre colchetes, ou entre parênteses após seu nome na chamada, ou inseridas entre parênteses em sua fala, Indicações ao Ator que são muito longas, melhor coloca-las como indicações gerais, entre colchetes.
  • nome dos atores em Maiúsculas normais, centralizados, primeiro como chamada conjunta para uma cena e individualmente na indicação de fala, e em minúscula nas falas em que são citados por outros).
  • Apenas as falas são em parágrafos de letras normais e alinhados à margem esquerda.

Um exemplo:

(Na primeira página o título da peça, o nome do autor, endereço e ano)

O MISTERIOSO DR. MACHADO

por……….

(cidade, estado)

(ano)


(Na segunda página, todos os personagens da peça) PERSONAGENS

Frederico Torres, vereador.

Aninha, secretária de Frederico.

Dona Magnólia, viúva ainda jovem, mãe de Aninha.

Machado, médico, irmão de Dona Magnólia.

Sinval, motorista de Machado.

Vicente, amigo da família.

(Macro rubrica) ÉPOCA: primeira metade do século XX; LUGAR DO DRAMA: Rio de Janeiro


(Na terceira página, a macro rubrica)

PRIMEIRO ATO

[Casa de família da classe média. Sala de estar com sofá, abajur, consoles e outros móveis e apetrechos próprios. Uma saída à esquerda dá para o corredor. À direita, a porta principal de entrada da casa. É noite. (Macrorubrica)]

CENA I

(Dona Magnólia, Aninha)

[Dona Magnólia, recostada no sofá, lê um livro. (Rubrica objetiva)]

ANINHA

[Entra na sala (Rubrica objetiva)]

Olá, mãe.

DONA MAGNÓLIA:

[Levanta-se do sofá, tem numa das mãos o livro que lia (Rubrica objetiva). Surpresa: (Rubrica subjetiva)]

O que aconteceu? Você nunca volta do trabalho tão tarde!

ANINHA

[Mantem-se afastada da mãe, a poucos passos da porta. (Rubrica objetiva)]

Na volta passei na Capela da Glória. Eu precisava refletir… (Desalentada: (Rubrica subjetiva)) Mas não adiantou muito. Meus problemas são de fato problemas!

(Muda a Cena devido à entrada de mais um personagem)

CENA II

(Dona Magnólia, Aninha, Sinval)

SINVAL

[Parado à entrada do corredor, tosse discretamente para assinalar sua presença. As duas mulheres voltam-se para ele (Rubrica objetiva)]

Dona Magnólia, eu vou buscar Dr. Machado. Está na hora dele fechar o consultório.

ANINHA

[Num ímpeto: (Rubrica subjetiva)]

Não, Sinval. Hoje eu vou buscar meu tio. Vou no meu carro. Tenho um assunto para conversar com ele na volta para casa.

SINVAL

[Embaraçado: (Rubrica subjetiva)]

Dona Ana… Às quintas-feiras ele não vem direto para casa… Eu é que devo ir. Ele voltará muito tarde.

DONA MAGNÓLIA

[Volta-se e lança o livro sobre o sofá (Rubrica objetiva); dirige-se autoritariamente a Sinval (Rubrica subjetiva)]

Diga-me, Sinval: o que meu irmão faz nas noites de quinta feira? Quando pergunto a ele, sempre me vem com evasivas. Diga-me você.

[A campainha da porta de entrada toca .Sinval aproveita o momento em que as atenções estão voltadas para a porta e escapa pelo corredor (Rubrica objetiva)]

*

CENA III

(Dona Magnólia, Aninha, Vicente)

[Aninha vai abrir a porta. Entra Vicente, amigo da família, que se encaminha diretamente para cumprimentar Magnólia (Rubrica objetiva). Aninha não demonstra simpatia pelo recém-chegado e acha inoportuna sua visita (Rubrica subjetiva)]

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Rubem Queiroz Cobra

Página lançada em 06-09-2006.

Direitos reservados.
Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. – Como escrever uma peça de teatro. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2006.